domingo, 18 de dezembro de 2011

Rodo cotidiano

Bloco A, lado D, número 45. Endereço de Zé ninguém, sem registro. Almas escondidas em cada rua ou viela, bibliotecas humanas degraus abaixo do nada. Fantasmas sociais, carcaças vagas e vivas. Penando oportunidades, penando melhores condições. Obras-primas, tias e mães, exploradas e não reconhecidas. Encostadas no museu da previdência social. Sábias anciãs ao lado dos seus medicamentos, objetos de protesto, concretos, nada funciona. Ladeira, jardim da esperança. Errei de bairro, errei de rumo. Lugar estranho pra se ter esperança. Lugar errado. Está tudo errado. Já perdeu algum filho? E isso é pergunta que se faça menina? Sim, perdi sim, perdi pro tráfico, perdi pra guerra, perdi pro álcool, perdi,  foi trocado por um salário minimo. Perdi José para as 48h semanais. Domingo é dia de fé e perco mais um pouco junto com o dízimo. Vila dos mortos vivos, dos sobrecarregados, dos brasileiros felizes, da cerveja nos domingos e do prazer culpado. Vila da batalha, das trincheiras e canhões. Balas sonoras, barulho de gritos. Alguém pede socorro? Não! Socorro mora no andar de cima, é que está faltando um pouco de farinha para o bolo terminar. 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Individualismo


Às vezes é como se eu só soubesse viver sozinha, como se me importar com as atitudes de outra pessoa fosse peso demais para mim. Sempre foi mais fácil ser indiferente, não ligar, dar ou não dar algo sem esperar reconhecimento. No entanto, parece que quando nos envolvemos, ficamos a mercê dos hábitos e dos desejos do outro, e eu realmente não sei lidar com isso. Sempre fui sozinha. Eu e minhas circunstâncias. Eu e os meus quereres. Sinto como se fosse complicado ter que fazer o que eu não quero para agradar alguém ou não fazer aquilo que quero por causa de alguém e a minha mente fica repetindo: se você estivesse sozinha nada disso seria necessário, você simplesmente faria. Não sei dividir, não sei partilhar. Sou egoísta demais para abrir mão de mim mesma, dos meus caprichos e vontades. Não é que eu seja fria ou que eu não me importe, eu amo, eu cuido e sofro também. Mas, é como se houvesse uma linha intransponível entre eu e o outro e fico assustada só de pensar na possibilidade de alguém ultrapassá-la. Acordo desta doce alucinação solidária, desta vontade verdadeira de ser diferente. Acordo no mundo real e em frente ao espelho. Espelho que é cruel, por expor o presente. Essa sou eu. Essa é minha sina. Esse é meu pecado. Sou individual demais para ser nós. 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sem o felizes para sempre

Depois de meses fugindo da minha solidão imposta, tomando remédios e malhando compulsivamente para não pensar sobre essas mudanças bruscas que vez em quando nos tira o sono, eis que sofro um pequeno acidente e ganho 30 dias de repouso. Para qualquer ser humano dentro na curva normal, 30 dias de atestado seria como uma dádiva divina. Só que para mim não. Eu sabia que eu se eu parasse em casa um dia eu iria envenenar minha água, cortar minha garganta ou me jogar da janela. Eu definitivamente não suportaria a minha companhia. 

Recém separada e completamente louca, essa era eu. Com uma dor de cotovelo maior que o mundo por ter sido traída e trocada. Sem conseguir ficar em silêncio e dormindo há dias completamente dopada de tarjas pretas. Com certeza, eu virei o assunto do salão de beleza nos últimos tempos.

O que me salvou é que eu sempre fui muito irônica com tudo, sempre tirei sarro das minhas desgraças. Eu sabia que estava na pior, no game over, no fundo do poço. E sabia que compulsoriamente tinha sido forçada a viver essa fase, sentir cada dor, ver cada ferida cicatrizando, beliscando e rindo da minha cara. Fui forçada a passar pelas fases do luto quando eu só queria dormir e acordar. 

Depois daquela fase mais de depressão, de pijama, sem tomar banho há dias, no sofá da sala sujo de pipoca e pão, entrei na fase da "volta por cima". Engraçado que mulher sozinha e deprimida resolve acreditar em tudo, se apega a qualquer promessa de um futuro melhor. Eu me entupi de livros de auto-ajuda, fiz listinhas do que queria melhorar, simpatias, espalhei incensos e flores pela casa. Comprei livros sobre astrologia, mapa astral, tarô, posição da lua, do mar, poder das ervas, dos cristas, do ar, do céu, da água, do fogo. De tudo. Pintei o cabelo - de praxe - e comprei umas roupas muito caras e maravilhosas. 

Não vou dizer que isso não me ajudou. Mesmo sabendo que eu fazia tudo aquilo para não encarar meus problemas, não posso dizer que essas coisas malucas não me divertiram. Era melhor ler Augusto Cury do que desejar que um carro atropelasse a cabeça do meu ex-marido. Politica de redução de danos. Eu me intoxicava de futilidades para me desintoxicar de pensamentos ruins. Não que eu considere todas essas coisas acima como futilidades, mas nunca foi muito a minha praia. 

Já que eu estava de férias, resolvi viajar. Acho que foi a coisa mais interessante que eu fiz da minha vida nos últimos tempos. Aceitei o convite de uma amiga que não via há tempos e fomos para uma cidadezinha que eu nem lembro o nome. Nos primeiros dias eu odiava tudo: o tempo de viagem, a estrada de terra, o calor, o sol, os mosquitos, a quantidade de mato, o silêncio do lugar e as outras 10 pessoas que dividiram os dias comigo naquela chácara. Porém, os dias foram passando, assisti os pores do sol mais lindos da minha vida, conheci pessoas super espirituosas que me deram cuidado, atenção e amizade. Aprendi a meditar, a escutar uma música com a alma, a cozinhar como quem faz magia. E à medida que os dias foram passando fui percebendo mudanças em mim. Eu estava realmente em paz. 

Acho que passei uns 10 dias nesta vila e doeu o coração voltar pra o mundo real. Meu atestado estava acabando, eu tinha que me conformar. De certa forma, voltar ao trabalho não era tão ruim assim, eu adorava o que eu fazia e essa parada obrigatória me encheu de tesão, de ideias para voltar de verdade para ele. Foi importante pra mim. Foi inesperado, não busquei e acabei encontrando. 

Enfim, talvez essa seja a melhor forma de auto-ajuda. A ajuda que verdadeiramente parte de si e dos outros, mas sem fórmulas e receitas. Dentro do tempo de cada um, dentro do limite de cada um. Esse livro que vende felicidades nunca vai falar sobre mim. Só eu sei falar sobre mim. Como sou irônica, conto esta história hoje como se tivesse sido 100% superada. Mentira pura. Mas seilá, talvez ninguém precise superar tudo o tempo todo. Eu posso conviver com meus dramas, em silêncio ou sem silêncio, de pijama no sofá deprimida ou me divertindo. Acho que isso que importa, aprender a conviver com a contradição. Com as perdas e com os ganhos. Sem o felizes para sempre. 

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Casa abandonada

Tudo está em silêncio. Cadê todo mundo? Não escuto mais barulhos de risadas, nunca mais ouvi vocês fazendo planos mirabolantes. Confesso, vocês me entretinham com essa ingenuidade de acreditar no para sempre. Achava engraçado a forma como vocês se divertiam por qualquer coisa. Acho que sempre senti um pouco de inveja, mas seilá, eu torcia por vocês, várias vezes tomei as dores quando vocês foram injustiçados. Sabe, eu rezei por vocês, apesar de achar tudo aquilo perfeito demais, improvável demais. Mas, o que foi que aconteceu? Vejo um dos armários vazios, quem é que foi embora? Porque foram e me deixaram aqui? Tendo que viver a minha vida sem graça, sem amor e sem tesão. Puta merda! Eu estou chorando agora. Vocês terminaram. Vocês não podiam ter terminado. Não podiam ter jogado toda minha crença no amor verdadeiro fora. Eu amava vocês... Vocês se amavam. Porque virou passado? Voltem! Voltem para mim.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Achei o roteiro do nosso filme na gaveta.


Confesso que passei algum tempo pensando se valia ou não a pena reviver e escrever tudo isso. Mas é incrível como algo anteriormente grande e muito significativo se tornou esquecível e quase inexistente. Sempre foi inadmissível para mim essa coisa de grandes amores virarem bom dia. Como assim alguém que eu amei, que eu compartilhei minha vida, que eu ri junto, que eu entreguei meu corpo aberto, hoje se transforma assim em um desconhecido desses que a gente vira o rosto quando passa na rua?

Não é saudade ou qualquer coisa relacionada a sentimento, é apenas estranheza do que isso se tornou. Acredito que você também não esperava por isso, apesar de que também acho que não é algo que ainda passe pela sua cabeça. Estamos muito bem em nossas vidas, bloqueados e inacessíveis.
Contudo, lendo uns textos antigos, senti uma lacuna temporal, como se todo aquele tempo fosse milagrosamente apagado da memória. A forma como as coisas acabaram contribuiu pra isso, claro, mas arrependida ou não, um dia eu te disse que te amava. Um dia eu era sua com o pé entrelaçado no seu. Como pude esquecer a forma como você sorria quando eu fazia isso?
Eu esqueci você como quem esquece algo trivial e você nunca foi trivial para mim. Meu Deus, como eu gostava de você! Como eu gostava das músicas que você ouvia, do seu sexo, das suas ideias, do seu silêncio. Como seu olhar me envolvia, como você me inspirava a escrever e a querer você.
Hoje eu tomei um susto porque percebi sua insignificância para mim. Não deveria ser assim, a gente sabe disso. Mas é isso, agora eu volto para o meu atual outubro, um ano depois daquela conversa improvável, naquele acontecimento do destino, em um dos dias mais inesquecíveis das nossas vidas.
Sentimental e sem subverter sentimento. Assim como aquela banda nunca mais vai voltar, a gente também não. Nem para ser amigo, nem para ser conhecido. Se hoje eu não recuperasse o que restava da existência disso, nada teria acontecido de fato entre nós dois.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Bebendo por toda dor humana.
Um brinde à crise e ao caos.
Impotência
ideológica, sexual, impulsiva.
Racionamento da razão,
atrofia,
falência múltipla do visceral.
Falta sangue nesses olhos,
aquele sangue de luta
que um dia orgulhou o mais arrogante,
o mais genial dos homens.
Falta sangue.
Desordem!
Esta cidade terminou de bagunçar minha guarda
e no varal estão fotos e notícias desatualizadas.
Usadas, gastas, feitas e refeitas.
Desejo,
aceito tudo
só não me torture, não me ampute, não me castre.
Preciso arder e inventar
em troca do gozo.

sábado, 1 de outubro de 2011

Poema de bolso,
manhã hostil.
Porque essa flor me irrita?
Porque não consigo regá-la?
Mulher desequilibrada.
Eu gostaria de entender você.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Tão distinto ele era,
como pôde me desejar?
Como pôde querer meu colo e meu corpo,
aquele homem que tanto respeito?
Se ele pedisse eu me despia, tão grande é o respeito que tenho por ele.
Nada a ele negaria.
No entanto, algo se quebrou entre a gente, eu sei.
Quando o vi indefeso diante aos meus encantos e pernas a mostra.
Ele me desejou.
Só que não me sinto suja e eu não sinto nojo.
Eu não sinto nada.
Eu estou completamente fria.


Os beijos nunca tiveram reciprocidade.
Os barcos nunca navegavam na mesma velocidade.
O ritmo não encaixou na letra,
e você fugiu,
para uma nota mais adequada.

Juno

Eis que estou aqui sem controle,
refém da minha própria insegurança.
Irracional, insatisfeita.
Meu corpo inteiro dói, a dor da cólera, a dor do amor não correspondido.
Sufoca os meus pulmões este ciúme.
O choro continua preso, cristalizado, não sai da garganta.
Ansiedade no peito, pensamento não pára.
No meu sangue razão e emoção degladiam-se.
Estou afogada em mim mesma e com vergonha do meu ego ferido.
Orgulhosa, cansada, sua, exposta.
Jogando todas as cartas, arriscando todas as fichas.
Eu preciso de paz!
Eu preciso dormir tranquila.
Na busca incessante por um porto, pela plenitude.
Hoje que eu queria ser uma árvore, hoje eu queria ser alienada de mim mesma.
A ignorância é um presente, já que não tem coisa pior do que ter consciência sobre si e se vê sempre errando.
Mas o que é errar, se eu gozo dessa maneira?
Minha vida sem angústias é no minimo medíocre e eu não nasci pra ser medíocre.
Bem-vindos ao meu divã.


Arrumei as malas, fechei o ciclo. Com lágrimas nos olhos abandonei o seguro do costume e partir em busca do novo, do desconhecido. Deixo a mudança me mudar, deixo a vida me viver. Deixo minha rotina desarrumar. Tenho fé no crescimento. O cômodo e o confortável não foram feitos para o meu espírito inquieto. O meu modo de amar é em movimento.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Desse encanto
portanto
desencanto
um tanto
como se fosse tanto
o pouco que és.

sábado, 6 de agosto de 2011

"Um monte de coisas que sonhei"

Ontem a noite acabou com nós dois andando pela rua vazia, sem direção, sem horário e sem pressa. A lua, a brisa e o silêncio eram as únicas testemunhas daquele nosso presente. Você sorria, eu sentia paz. Estávamos juntos, sim estávamos, e não era necessário nominar. Qualquer palavra soaria vaga e reducionista naquele momento. Eu que só ando solta, me vi de mãos dadas com você. Já não pensava no futuro e muito menos na minha expedição agendada. Não me lembrava da mochila feita, nem do dinheiro guardado. Que me desculpem os meus planos, mas não controlarei este sentimento. Sim, eu digo sim, eu aceito esta liberdade de estar só com você. Velocidade, movimento, intensidade. Tenho improvisado neste palco em que você é o único na plateia. O seu corpo tem cheiro de mar, de pôr-do-sol, e eu já não sinto medo de percorrê-lo. Tenho o mundo aos meus pés, e muita ânsia de viver e de experimentar as coisas, não abro mão disto. Pegue seu violão, vamos comigo? Sou assim, sou intensa. E apesar de tentar controlar isto o tempo inteiro, sei que preciso deixar fluir a espontaneidade que tinha quando criança, vivendo sem racionalizar demais. A verdade é que eu não sei chorar minhas dores, vou soterrando-as, fujo, não me entrego de forma alguma. E acabei endurecendo com o tempo, até demais. Só que agora, resolvi esquecer as lanternas e caixa de remédios em casa. Estou disposta a entrar nesta aventura e deixar o excesso de precaução para trás. Eu já não tenho mais fobia do escuro. O incerto já vem puxando meu tapete há algum tempo. Por isso que não vou medir palavras pra registrar o meu agora. Será que vai durar até amanhã? Só amanhã pra saber. Alguns desfechos são cruéis, mas as flores mais fortes são as que nascem do cimento. Enfim, isto não é mais importante. Recortei aquele momento e pendurei no varal das cores inéditas. Quero relembrá-lo, quero revivê-lo. Só desejo que sejamos, antes de tudo, grandes amigos, e que cuidemos do espirito um do outro. Sem projeções, idealizações e grandes expectativas, vamos crescer, vamos ser, vamos estar. Como estávamos ontem de mãos dadas naquela rua vazia.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fertilizando o território da mente, continuo acreditando no sentimento, na razão e no meio termo. Termino frases, coloco pontos e eis que fecho o velho ciclo mal resolvido. Resolvido! De agora em diante serei apenas aquilo que sou e farei aquilo que me faz ser. Ser humano, vivo e errante. Tenho que parar com essa mania de querer prever o futuro. Síndrome da cartomante. Não sei, não sei, não vi. As cartas estão postas na mesa e a vida está ai de plano de fundo para bilhões de histórias que nunca se cruzarão, ou não. Só sei que no meu barco quem rema sou eu! Será? Quedas, abismos, precipícios ou pontes que o tempo construiu me levam a driblar o destino com fé na sorte. Movimento e morte: eu. Que sou o que penso ser, que escolho o algoz ao invés da vitima. Sou aquilo que mais detesto em mim, por isso deixo tudo pra trás, enterrando no cemitério dos desfechos o que sobrou dos ciclos fechados.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Compilação de uma tarde à beira do precipício.

Não é como parece. Os desenhos animados já nos diziam. O mestre dos magos não é o mocinho e o cisne na verdade é uma princesa. Filosofando em numa varanda baixa, cigarros e bebidas, somos três mulheres geniais, incríveis e alucinadas. Contemporâneas de uma época, de uma alucinação. Dentro de uma matrix, de um software, de uma invenção, vamos nos tornamos cada vez mais alienadas de nós mesmas. Estamos completamente imersas na subjetividade atômica que inventamos, chegamos ao nirvana juntas, junto a sensação de plenitude de saber que nada é real. Suicidas em uma varanda baixa com muita vontade de viver, estamos matando as nossas verdades que convivem com a verdade do outro e com a verdade imparcial que se perde no cosmo. Sincronicidade. É o que faz vidas e rotinas anônimas e análogas se cruzaram num momento qualquer em um lugar qualquer. Falamos de sexo, de amor e de loucura, citamos Freud, Einstein e Alice. Gozamos com Clarice, com Pessoa e com a tal Joana que precisa existir pra que Chico seja genial. O que isso significa mesmo? Nada. Não significa nada. Somos vizinhos de gênios, somos vizinhos dos anônimos que podem ou não mudar as nossas vidas. Nesta hora dou um grito, um alívio, diante da descoberta de um segredo ancestral. O que são pontos pretos em um fundo branco? Existe mesmo um fundo com pontos? A verdade é que quanticamente nunca nos tocaremos, e ainda quanticamente somos um átomo que não é sólido. Ou seja, somos códigos enxergáveis apenas para nós mesmos, fluidos, composições do acaso, aglutinações do destino. “O mundo é perfeito’’ nosso sistema de maluco que não é. Inventamos as janelas que são vivas, com nossas almas acesas ou apagadas. Vivemos em cubos, quadrados que não se comunicam. Do conjunto de cubos se formam prédios e quando vejo os prédios com janelas acesas só consigo pensar na vida de cada uma destas pessoas. Suas dores, seus medos, suas perdas e ganhos, seus amores, seus sonhos, sua morte, seus vícios e coleções. Só consigo pensar nas vidas paralelas e em passados e presentes que coexistem. Somos três loucas e pensantes, somos três em sintonia de sentimentos, somos três conjuntos de átomos filosofando numa bolha. Apertando as nossas mentes habituadas, confrontando nossas ideologias e sentimentos. O que fizemos com nossa espécie? Que espécie de formigas operárias nos transformamos para sustentar esta alucinação e esta entidade imaginária que chamamos de sociedade? Será mesmo que os loucos estão nos hospitais psiquiátricos? Ou será que os loucos estão nas universidades, nas empresas e nas varandas baixas filosofando sobre a vida?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Exclusivamente pra você.

Este texto tem dono, tem destino, tem razão de ser. Estas palavras são verídicas e suas. Tenho fugido do espelho, pois ele tem exposto a minha hipocrisia. Eu sempre disse que o mundo dá voltas e nos momentos em que mais senti raiva, juro que desejei que alguém um dia fizesse com você o mesmo que você havia feito comigo. Desejei que você sentisse a mesma dor que eu sentia... O que eu não sabia era que quem faria isso com você, seria eu. Fica uma divisão em mim, de uma satisfação por estar vendo você entender agora todas as minhas queixas e ver você entregue, exposto, como eu antigamente. No entanto, dói estar diante da minha incoerência e dos meus atos tão indignos e sacanas. Devo me culpar tanto? Afinal, você merece. Devo me torturar tanto vendo que você tá mal com minha indiferença? Um dia eu te amei muito, um dia você era aquilo que eu mais queria. Um dia você foi o meu porto-seguro, um dos meus sonhos. Um dia... Seilá, você sabe que eu gosto de você, mas que eu perdi todas as certezas que eu tinha. Eu juro que não quero te fazer mal. Não confie em mim. Eu sou mais imatura do que eu pensava. Eu não estou preparada pra isso.

domingo, 12 de junho de 2011

...

Dimensões e teorias. Ciência, física. Estatísticas psíquicas. Ele gosta de números e eu gosto da camisa preta de manga curta que ele veste. Ele valoriza o método, a análise, os fatores e eu gosto de pensar em poesia quando o vejo. Correlação nula. Ideias opostas, probabilidades ilusórias de sucesso, de um encontro. Destino é acaso, acaso me lembra o tom, que tem dado sonoridade ao meu poema sem rimas e versos, em um espaço aberto onde estou com o coração escancarado, exposto, transbordando questões e gestalts abertas. Aprendo outras línguas, quero aprender o idioma das estrelas. Acordo do sonho, ou não, esta vida que eu levo é irreal e só posso está sonhando dentro de uma caverna paleolítica. O telescópio me mostra o utópico diante do meu nariz. Vontade de tirar uma trova espanhola de um violão sem cordas, vontade de arder criando. E de morrer vivendo.

Glossário dispensável.

Tem sido assim, tem sido eu. Estou no meio da crise, no hiato literário, no não saber o que de fato é meu e o que é do outro. Explicar isso seria inútil e dispensável. Seria como uma legenda, onde significados se perdem com a tradução. Eu me perco quando me traduzo. Quantos elementos a fotografia não capta? Quantos elementos as palavras omitem? Em mim, ocorre uma dança frenética chamada sentir, enlouqueço, por isso penso, na tentativa de assumir o controle. Fracasso! O sentimento só faz sentido se for sentido.

sábado, 21 de maio de 2011

Loucura cotidiana

Quer saber o que é loucura? Pergunte aos "loucos". Bem diferente do que estão nos manuais, nos livros de psiquiatria ou nas definições mais cotidianas, eles me explicaram o que é de fato loucura e eu descobri que eu faço parte do grupo dos loucos da pior espécie...
Loucura eles me disseram: - É não viver, é não sorrir, é brigar por qualquer coisa e descontar nas pessoas seus problemas. Loucura é fazer do dinheiro, do sucesso e dos objetivos materiais o sentido da vida. Loucura é se afastar cada vez mais da sua condição humana e viver e brigar por um mundo de idéias, criado, construído, arbitrário. Loucura é nossa ansiedade por se enquadrar, por ser normal, por ser padrão. Eu sou louca porque eu não sou livre, eu obedeço todas as regras, eu me importo com o que os outros pensam sobre mim. Eu sou louca porque eu me alieno no sistema, porque eu compro o que eu não preciso, porque eu maltrato meu corpo e reprimo meus desejos. Isso é loucura, isso é insanidade. Talvez, eu que precisasse de tratamento e não eles. Eles são livres, ousam, criam e possuem realidades próprias. Inconscientes a céu aberto.
Eu vivo numa sociedade louca e suicida, eu vivo numa sociedade irracional. Eu vivo em uma sociedade que clama por vingança e se diverte as custas do sofrimento alheio. Eu vivo numa sociedade que destrói seu ambiente, que faz das crianças máquinas de consumo, eu vivo numa sociedade racista, homofóbica, intolerante, machista. E quando eu olho os olhos fixos de um psicótico grave, quando eu não consigo segurar o olhar, por fraqueza, olhando os olhos fixos dele. Ai eu tenho certeza: A louca aqui sou eu.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cheguei de mansinho, como quem pede cafuné, carinho.
Ô carência!
Mas era tão raro, essa rotina maluca desacostuma a felicidade gratuita.
Café quentinho,
Meia no pé, frio.
Interior lá longe...
Terra molhada, chuva no telhado.
Cobertor.
Colo de vó, benção de avô.
Amor de familia, doce de leite, cachecol de crochê.
Simples como ir a todos lugares de bicicleta.
Simples como amar sem esperar nada.
Simples como esperar ansiosamente para ler mais um pouco de um livro...
A tecnologia foi proibida de entrar aqui.
Aqui, onde as relações são humanas e reais.
Refúgio do meu gosto,
cavalo, vida, campo, verde.
Águas doces de Oxum e terra dos elementais.
Ô meu mundo perfeito, intocável, paralelo, verdadeiro.
Não quero voltar, não quero voltar para a busca do sucesso,
para a falta de tempo.
Quero ficar aqui, anônima, amada, mimada e inteira.

sábado, 7 de maio de 2011

Sobre esquecer...

Depois de quase uma semana de dor aguda, de chorar todas as lágrimas da humanidade, eu só queria esquecer tudo que aconteceu. Deletar o tempo, apagar com uma borracha os últimos acontecimentos e no lugar de um coração partido, ter um coração tranquilo e sereno como estava antes de você ter transformado minha vida amorosa numa roda gigante.

Quem nunca quis sumir por uns dias, esquecer tudo, apagar da memória? Pois então, acho que desejei tanto que um aparente milagre chegou e bateu em minha porta. Recebi um presente anônimo, uma caixa de papelão azul, que continha um bilhete simples e direito com os dizeres: "Você tem 24h pra se despedir dessas memórias que tanto te doem, amanhã quando você acordar, você não vai mais sofrer nem chorar, você vai esquecer". Acabei me entusiasmando com a possibilidade disso ser real, parecia enredo de filme, de livro, seilá, e com um misto de excitação, curiosidade e desejo de esquecer toda essa dor, eu abri a caixa sem pensar duas vezes.

Dentro dela havia um frasco, com alguma substância qualquer que seria responsável por essa formatação da memória recente. Bebi aquilo como quem bebe água e mentalizei com fé que no dia seguinte eu estaria totalmente recuperada. Não sei que tipo de droga era aquela, mas deu um efeito alucinante em mim, pensei que fosse morrer de overdose e que aquele presente era uma tentativa de envenenamento que a minha ingenuidade não maldou. Porém, logo em seguida as cenas começaram a surgir na minha cabeça, o que foi torturante, porque além de vê-las eu revivia todas as emoções relacionadas a elas.

Pensei que o remédio estaria funcionando e que de fato eu tinha 24h pra revê-las pela última vez. Voltei a acreditar nos benefícios disso para minha felicidade, já que nos últimos sete dias eu só sabia sofrer. Bom, nas primeiras 7 horas, assisti as cenas de sua indiferença, do seu afastamento, da sua esquiva, da sua falta de consideração, da sua falta de tato. Vi a gente brigando, vi você mentindo, vi você inventando desculpas, vi o quanto estávamos tristes, ansiosos e estressados. Eu me vi sofrendo por sua causa depois que a gente terminou, vi e revi a nossa última briga. Confesso que essa sessão foi massacrante e que reviver todos aqueles momentos me deixava pior do que eu estava. Eu só pedia que o remédio fizesse efeito logo pra eu esquecer aquilo, mas ainda faltava um bom tempo.

Depois dessas cenas mais duras, do nosso término e do sofrimento pós-término, vieram as cenas que antecederam o nosso colapso. Cenas de ciúmes, de cobrança, momentos de saudade, discordâncias pequenas sobre teorias, filmes e coisas triviais. Coisas pequenas, comuns em todos os relacionamentos... Confesso que foi mais leve, mas não fazia questão de lembrar mais daquilo não.

Bom, agora já tinha 12h de efeito, estava na metade... Já que teria um intensivo cinematográfico sobre a nossa relação, resolvi ir para um lugar mais confortável, preparar um café e coisa e tal. Foi quando deu inicio a parte boa da nossa história, mas que trouxe a melancolia de volta. Comecei a escutar todas as nossas músicas, a lembrar dos lugares que fomos juntos, dos filmes que assistimos, lembrei as coisas que tanto nos marcaram: Aquela banda especifica, a piada que marcou, o livro que a gente trocou, o dia que a gente se conheceu. O enredo do filme que a gente fez junto, as situações mais inusitadas e improváveis que aconteceram...

Lógico que chorei de saudade de ver esses elementos desfilando na minha cabeça, elementos tão pareados com nossa história. Claro que também ri várias vezes, principalmente quando assistia a gente rindo de pessoas, de coisas, quando via nas cenas nossas coincidências... O remédio tá fazendo efeito, amanhã isso acabou. Eu pensava: Poxa, é triste que eu esqueça, mas é melhor não lembrar né? Imagine toda vez que escutar essa música se eu ficar lembrando dele? Não, não... Apaga, apaga.

Pelos meus cálculos a essa altura faltava mais ou menos umas 8h pra que meu HD tivesse zerado. Devido a isso, as memórias positivas começaram a se intensificar à medida que o tempo ia passando. Lembrei todas as sensações físicas, dos beijos, abraços, das transas, do cafuné no cabelo, do frio na barriga quando você me olhava daquele jeito, das massagens, lembrei da mordida na orelha, no pescoço, lembrei do arrepio, da saliva, do cheiro, da quentura do seu corpo, do lábio, das suas mãos, dos seus pés esquentando os meus. Fui assistindo e sentindo, assistindo e sentindo...

As horas passavam, faltavam agora 5h de filme e fui vendo como meu sentimento foi se formando. Lembrei da incredibilidade que dava a você no inicio, do medo de me apegar pela iminência de sua partida, e fui lembrando como eu me apaixonei por você. Vi, vivi e senti essa paixão me sufocando de novo, vi o quanto amava seu sorriso e o seu jeito de demonstrar sentimento, vi todas as cenas em que o mundo parava e que só existia nós dois. Vi o quanto me acostumei com seus traços, com seu corpo, com sua voz, com nosso jeito.

O tempo passava e fui ficando angustiada, não queria mais que o tempo passasse, não queria mais que chegasse às 24h, não queria mais esquecer... Como se para isso? Não quero mais esquecer essas lembranças. Não quero acordar amanhã como se nada tivesse acontecido. Não quero perder da memória esse amor todo que senti por você. Não quero! Não quero! O tempo agora corre mais do que nunca, só faltam 2h... Bate o desespero, o “presente” que ganhei de poder te esquecer virou um grande pesadelo. Deve ter um jeito de cortar esse efeito...

No auge do meu desespero, tentei te ligar, você não atendeu. Sai parecendo uma louca pela rua, como naqueles filmes que um minuto é vital. Era assim que me sentia, você estava saindo de mim, suas lembranças estavam sendo esquecidas, precisava te ver, precisava me despedir. Corri, corri até que cheguei em sua casa. Você atendeu a porta, com um ar de quem não tá entendendo a minha euforia e muito menos a minha presença. Minha cabeça pulsava com imagens nossas, com frases suas, com nossas brigas e nossos planos. Faltava só 1h, e eu estava totalmente arrependida de ter tomado aquela droga maluca. Eu só conseguia soluçar na sua frente te deixando atordoado e confuso diante de toda aquela loucura.

Mais calma, tentei te explicar um pouco os fatos, sabendo que você ia rir ou achar que eu estava surtando... No entanto, eu não tinha nada a perder, amanhã eu não lembraria mais de você e eu precisava me despedir. Por alguns minutos eu disparei uma declaração de amor que eu nunca pensei ser capaz de fazer pra alguém e pelo final do tempo que me restava a gente se amou intensamente como se fosse mesmo a última vez. Era como se a morte estivesse na porta, era como se o mundo fosse acabar em 20 minutos...

Bom, a parte louca de tudo isso é que acordei no seu lado no dia seguinte e lembrava exatamente de tudo que tinha acontecido. Ou seja, o tal remédio era uma fraude. As peças foram se encaixando e eu vi que o trote de alguém, tinha funcionado como efeito placebo em mim, fazendo eu rever todas as cenas que eu falei tanto que queria apagar. Mas, ironicamente, este trote me deu uma lição, daquelas que a gente leva pra toda vida.

Por mais que esteja doendo, por mais que pareça que nunca vai passar, por mais que seja insuportável conviver com essas lembranças, apagá-las sempre será uma tolice. Apagá-las é apagar junto o quão feliz eu fui, é apagar junto tudo que eu aprendi e cresci nessa história. É apagar junto, uma parte de mim mesma. Esse trote, de alguém que eu nunca vou saber quem, foi um marco na minha vida. Agora, eu continuo triste, sim, afinal as coisas acabaram... Mas não quero esquecer nem um segundo e nem mudar nenhuma vírgula de tudo que eu vivi, fiz, senti e passei... Isso eu faço questão de levar comigo, principalmente depois que tudo chega ao fim.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Poesia a quatro mãos.

- Vamos fazer poesia a quatro mãos?
Te dou minhas duas, com dedos dez.
E tomo as tuas em revés.
...
A gente tenta, mistura a tinta da inspiração
e mescla em mosaico as nossas idéias,
as nossas saudades,
nosso mútuo bem-querer,
as nossas vontades de, em parte-por-parte,
fazer arte virtual.
Facebookiando meu carinho por você!


- Te dou meus pés, meus olhos e os meus ouvidos.
Te trago movimento,
poesia em espiral.
Aceita o meu corpo como rascunho,
E vê das nossas tintas novas cores surgirem.
O colorido dos nossos amores,
tão tristes,
tão grandes,
e tão passionais,
se encaixam, se perdem e se espalham...


- A gente tenta fazer da tinta arte.
Um mundo à parte se reiventa.
E é tão lindo quando moldamos as palavras ao nosso bel-prazer,
um prazer escrito.
Um grito virtual de caracteres partidos,
perdidos,
procurando se encontrar.
E é nessa união de ritos que a nossa gramática se ajeita,
se aninha,
a sua com a minha,
virando poesia.
Cuidado, Camilla, isso vicia. =)


- Nossa poesia é livre,
sou João, Maria,
sou você, sou eu.
Sou quem quiser.
Nossa poesia é tão livre que a gente se prende.
Se amarra, se agarra, se cuida.
As letras namoram umas com as outras,
as frases deslizam sozinhas pelo corpo.
Corpo rascunho,
Coração - produto final.
Poesia é isso,
a fantasia que vira real.
Poesia é isso,
é orgia,
é primeiro amor,
é separação.
É espiritual, viceral...
Mesmo quando virtual se torna real.


- Concordo plenamente e bebo tuas palavras com goladas grandes.
E brindo à dadiva do encontro,
do canto,
da rima.
A vida nos ensina a ver beleza no outro,
nas coisas,e fazer disso ferramenta.
A gente pode não mudar o mundo com nossa poesia... mas a gente tenta.

- A gente muda o nosso mundo.
A gente muda a nós mesmos.


.
Camilla Veras e Caio Muniz

...

Nariz vermelho e malabares,
Arte virando sorrisos.
Sorrisos virando aplausos.
Me apaixonei por um palhaço.
Amei um personagem.
O picadeiro das nossas vidas mostrou que um mundo diferente o aguardava,
E a paixão pelo estrangeiro foi diminuindo tanto...
Que quase desapareceu.
O tempo passou e do palco fiz casa.
E eis que o palhaço viajante retorna,
trazendo alegria para essas bandas e fazendo do meu coração um completo circo.
Mas, o destino é como uma corda bamba,
e de platônico amante, o meu palhaço, passou agora a ser o meu mais fiel admirador.

sábado, 26 de março de 2011

Atentado ao meu pudor.

Verdade
Diferença
Crime
(RE)forma.
Mentes Perigosas?
Idiotas!
Espalhados nos jornais, nos fóruns, nas platéias.
Centralização do saber, do poder.
Democratizem a democracia!
Abram, não enterrem os vivos.
Falem aos miseráveis.
Não queremos mais catequistas nem evangelizadores.
Não queremos mais experimentos, nem “civilização”
Queremos política, transform(AÇÃO)
Novas engrenagens?
Recuperação?
Estamos cansados de “Readaptação” “Ressocialização” “Reenquadramento”,
Quadrado.
Norma social.
Qual a média?
Qual o certo?
O que é normal?
Os verdadeiros loucos são os que enquadram, os que discriminam, os que marginalizam...
Loucos somos nós, presos na nossa ânsia de liberdade.
Estamos sozinhos, virtuais, offlines.
Discursos bonitos não acompanham mudanças,
e a política ainda segue a ideologia “Caça às bruxas”.
Eu quero as bruxas e os hereges no poder.
Quero as mulheres nas assembléias, nos fóruns, e os escravos torturados ocupando a casa grande...A Casa Branca.
Homofobia? A gente tem que ter fobia é de corrupção, é de violação, é de abuso.
Não fobia do amor livre e da adoção.
A gente tem que ter fobia do nosso comodismo, e do nosso orgulho brasileiro somente em copa do mundo.
Fobia, covardia, paralisia, manutenção...
“Só não enxerga quem não quer...”
“Só não enxerga quem não quer...”

...

Pelo mesmo medo de continuar, eu permaneço.
Maior que o medo de ficar, tem sido o medo de perder.
Perder o canto, perder o adormecer tranqüilo.
Mãos, pés, laços, réguas, compasso...
Caminho para me render...
Passionalidade.
Sinestesia irracional.
Perco o tempo, perco coisas.
Pastas, certidões, cédulas, euros...
Coisas...
Junte tudo, embarque comigo nesta cama de gato.
Olhos atentos, espelhos e varandas...
Escrevo um poema em você.
O meu poema em você.
Deslizo minhas mãos mais inseguras sobre o seu corpo desconhecido.
Abandono o barco? Abandono o medo?
Abandono- me.

Habitat


Eu poderia escrever mil coisas sobre este lugar,
“Cobra-chata” que não sai do meu pensamento.
Só vejo água ao meu redor e de repente tudo perde o sentido.
Janaína chama meu nome...
Sou filha desse lugar!
Sangue de pescador correndo nas veias,
o balanço do barco é como ser ninada.
Estou familiarizada.
Sou filha desse lugar!
Não tenho medo dos segredos do mar...
Eu poderia escrever mil versos sobre essa calmaria de estar em casa,
Eu poderia escrever mil versos explicando a minha felicidade...
Mas, eu não quero, eu não posso, eu não conseguiria.

Quadrado

Constância, felicidade, reto, horizonte.
Desce, desce, desce.
Perco tudo, a referência e a mim.
Constância novamente...
A gente se acostuma.

sábado, 19 de março de 2011

Versos não correspondidos.


Eu e você.
Não tem muito a ver.
Mas há, mas é.
Relação silenciosa.
sem saber,
sem futuro,
sem querer.
Eu gosto de você.
Eu gosto mesmo de você!
Não entendo o porquê,
Mas, você tem um cheiro...
E um silêncio que me inquieta.
Racionalmente, eu não sei explicar o que me prende tanto.
Mas toda vez que digo pra mim mesma que vou te deixar,
toda vez que digo que vai ser a última vez,
eu me apaixono ainda mais...
E me amarro ainda mais no nosso jeito.
Queria te levar na minha mala,
te encaixar nos meus planos.
Explorar o “nós", sem deixar de ser dois.
Mas, não é recíproco.
É platônico.

segunda-feira, 14 de março de 2011

.

Fica mais um pouquinho, não vai agora não.
Ainda tá cedo, o café mal esfriou.
Tem biscoito no armário, até ar se você sentir calor.
Não vai embora não, esse sofá é muito grande pra mim.
Deixa a TV falando sozinha, desliga o computador.
Vem cá, o tempo passa tão rápido quando você está aqui...
Tempo mal amado! Bem que ele podia congelar quando você me abraçasse, ou ao menos se igualar ao ritmo dos seus dedos quando acarinham meus cabelos.
Fica mais um pouco, meu amor?!
Fica até amanhã cedinho...
Tá, Tudo bem! Parei de insistir!
Vai ficar mais 10 minutos então?
10 minutinhos? Tá certo!
Vem, vem logo então, vem aproveitar.
Não quero perder um só segundo...

domingo, 13 de março de 2011

Ciranda

Buscando e procurando, sempre gerúndio. Futuro do pretérito imperfeito, atuais e presentes, imperativas e hiperativas. Não sabem o que querem só o que não querem. Semana das mulheres, das loucas mulheres. Passionais e desmedidas, verdadeiras atrizes que representam seus próprios roteiros, típicos melodramas hollywoodianos.

Não foi por acaso este tema, muito menos esse texto, essas mulheres me renderam e me emocionaram por esses dias, estou a par das suas hipérboles e antíteses. Malditas mulheres! Tão geniais e geniosas, histéricas e incompatíveis. Como completar algo que já é inteiro? Mulheres inteiras e faltantes. Catherine Heathcliff, Maria Helena de Woody Allen, e Maria, nome fictício de uma mulher real, nome que inventei quando a vi transbordar em si naquele palco vazio.

Bruxas, armadas e cretinas. Tão românticas, amantes e passionais. Musas imperfeitas, criminosas e suicidas, amantes do drama, da ponte e do veneno. Nada parecidas com as princesas dos contos de fadas. Autoras de contos de terror e luxúria. Filhas de Eva que não hesitariam em comer do fruto proibido. Poemas corpóreos, tatuados em anagramas indecifráveis. Mulheres sem manual, doidas e santas de Martha Medeiros.

Mulheres MAIÚSCULAS, inconstantes e inseguras. Feministas de Simone de Beauvoir, anti- Amélias e anti- Marinas, ovelhas negras. Mulheres livres, viciantes e viciadas. Putas e artistas. ARTISTAS! Que tiram o S da crise e criam. Criam e são, sobretudo, porque amam. Mães da arte e do mundo.

Sofrem, por não serem medíocres, por não serem comuns, por saírem da reta, mulheres que sofrem por amor em demasia, o excesso de fato é um fardo. O excesso que colore o mundo, excesso explodindo na mais sofisticada arte. Uma explosão de ser, de essência fenomenológica e fenomenal, criadoras e criaturas. Mulheres reais e até quando racionais... Sentimentais.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Vinte

Verões, invernos, outonos e primaveras.
80 estações do ano e transporte.
Transporto-me pra o antes,
para o agora e pro amanhã...
20 vezes 20 decepções.
20 vezes 200 alegrias.
20 vezes 2000 aprendizados.
Twenty, vingt, vinte...
Botões na camisa.
Gripes mal curadas e noites mal dormidas.
Porres mal tomados e sonhos realizados.
Vinte.
Amores, sonhos e anos.
20 versus 20 milhões de ''Eus".

domingo, 16 de janeiro de 2011

Escorpiana

Chegou e roubou minha atenção. Praia cheia, calor equatorial e um verdadeiro paraíso aos nossos pés. Chegou sozinha, independente, com ar de quem não precisa de ninguém. Estendeu sua canga vermelha, da cor dos seus cabelos. Ruivos, mas não naturais. Cabelo de personalidade de fogo.
Tinha um piercing no nariz e uma tatuagem no quadril, cujo desenho não consegui identificar. Quem é essa mulher?
Tirou a roupa, com a indecência de quem tem a praia só pra si. Ninguém a via, apenas eu. Deu um mergulho no mar. Livre. Sozinha. Era auto-suficiente. Ela voltou como num desfile, assumindo o seu posto e deitando em sua canga vermelha. Acendeu um cigarro e deu a cartada final: Abriu uma revista barata de horóscopo.
Rá, eu sabia! Nessa hora, confesso, não contive o sorriso. Eu sabia que essa mulher, cujos cabelos escondem mistérios e cujas marcas revelam histórias, essa mulher que me chamou tanta atenção, era apenas uma mulher.
Com uma personalidade que transborda além das tintas que cobrem o seu corpo, ela vai sozinha na praia dar um mergulho, fumar um cigarro e ler suas previsões para 2011.
Ah, eu aposto que ela é escorpiana...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Catarse

O momento é perfeito.
Papel e caneta, caso antigo.
Sabe a hora do dia que eu mais gosto?
A hora do crepúsculo.
Nem tarde, nem noite.
Gosto do marasmo desse horário...
Tons de laranja se ajustando com tons de azul no céu.
Me equilibra.
Onde quer que eu esteja, eu gosto desse tempo.
Pode ser da janela do meu apartamento, vendo as luzes da cidade acenderem progressivamente.
Ou melhor, pode ser da areia da praia, contemplando a imponência com que as ondas do mar cumprem sua rotina.
Gosto desse intervalo de tempo.
É como estar apaixonada.
É como ter vontade de passar um dia inteiro deitada numa cama olhando para alguém.
Ainda não sei o que isso significa...
Mas, esse vento entre a gente e essa sua forma de me olhar, me embebeda.
É, aconteceu.
Preciso dessa tarde no meu corpo.
Não, eu não preciso de você.
Só estou aqui porque eu quero.
É, eu te quero.
Prazos de validade sempre me desafiaram.
Gosto de ir em frente e ver até onde vai o limite do aproveitável...
Meus pensamentos retornaram a janela do meu apartamento.
Agora, o preto da noite vai vencendo o laranja e o azul do crepúsculo.
Sinto meu futuro me cobrando explicações.
Onde eu estive, ou o que eu estive fazendo.
"Já é noite, hora de voltar pra casa".
Não, não quero parar de escrever minha subjetividade,
tou ficando boa nisso...
Tem funcionado assim, como uma catarse.
As palavras simplesmente vêm e vou psicografando minha essência não barrada.
O meu passado é apenas um porto seguro quando o presente ou o futuro me assusta.
É só um chão que eu posso pisar pra ter certeza que eu tenho certeza de alguma coisa.
Só isso é o meu passado.
Meu futuro, esse é feito de sonhos.
O que eu temo de verdade, é o silêncio do meu presente.
É como o mar que me encontra na areia junto ao crepúsculo e me diz tudo sem me dizer nada.
Na verdade, eu estou bêbada...
Bêbada dessa maresia, desse sentimento de amor e paz numa cabana de palha, estou bêbada desse sol se pondo e deste fim de tarde que me cala.
Eu não quero que nada estrague essa completude que eu sinto agora.
Eu quero que todo mundo sinta o que eu estou sentindo.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Is This It?

Gosto do inacessível,
indecifrável.
Gosto de não gostar,
Versos perdidos.
Quem sou eu afinal?
Sou ninguém,
deitado nessa espera.
Números e cálculos por fazer,
matemática precisa.
Preciso de mais razão na minha vida.
Minha soma nunca dá exata.
Procuro no espaço, recorro ao infinito,
o porque de tudo isso.
Não me encaixo,
não sou previsivel,
Apenas a máscara que eu apresento é comum.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Apático

Rio de Janeiro, em janeiro, uma casa vazia e sete cigarros queimados. Ansiedade versus apatia, óculos manchados, não levanto da poltrona, não irei limpá-los. É meio dia, permaneço de pijama, o mesmo da noite que encarei sozinha. Continuo acordada, não lembro a última vez que dormi. Estou assim, inerte, sonâmbula, fumante... No peito uma aceleração sem explicação, estou sufocando de agonia, um carnaval acontece dentro de mim. Por fora, pura inércia, não há mais o que fazer. Não vou pentear os cabelos, nem curtir o verão da cidade maravilhosa. Não vou tirar este pijama, nem parar de fumar. Eu tenho direito de escolher como quero morrer e felizmente a dor me inspira. No entanto, um último recado, daqueles que deixaria na geladeira para quando alguém me encontrasse afogada em um copo de whisky. Um simples bilhete, com os seguintes dizeres: Eu me importo com você.

.

O meu maior dom,
foi o meu maior algoz.
Passei da dose e do limite,
do que pertencia somente a mim.
Deixei sequelas e feri pessoas.
Eu só fui sincera.
Minhas próprias palavras,
me machucaram no fim.