tag:blogger.com,1999:blog-66851277939707684752024-02-07T19:34:53.427-08:00Pensamentos em RetalhosCamilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.comBlogger104125tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-38658510882206127822014-03-07T15:36:00.000-08:002014-03-07T15:39:21.731-08:00Chile 678Eu fecho os olhos<br />
o tempo e o espaço rodam<br />
acordo nas minhas ruas<br />
em mim<br />
<br />
Eu sou a fechadura que empurra<br />
o portão de ferro pesado e antigo<br />
Eu sou a sinaleira e as faixas<br />
as vitrines<br />
e o entardecer<br />
<br />
Eu sou a solidão<br />
a história<br />
Fecho os olhos e posso<br />
sentir o vento frio<br />
que toca o meu rosto<br />
<br />
Sinto o peso do abrigo<br />
e volto a ver através dos meus olhos<br />
as ruas que sou<br />
<br />
Fecho os olhos e subo<br />
o velho elevador de grades<br />
que dá em lugares diferentes<br />
O meu teto<br />
é de vidro<br />
entra a luz do sol<br />
<br />
Beijo na testa<br />
cama quente<br />
estou em casa<br />
estou em mim.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-88386786500764550032013-11-19T19:13:00.002-08:002013-11-19T19:16:54.838-08:00Avenida 9 de julho, Buenos AiresE na nove de julho<br />
passei e caminhei<br />
olhei perdidamente<br />
lágrimas deixei<br />
<br />
Deixei sorrisos<br />
os ruídos<br />
e os caminhantes<br />
testemunhas do grande achado<br />
perdida<br />
eu<br />
<br />
A nove de julho<br />
foi palco<br />
das infinitas telas que pintei<br />
a janela de Liz<br />
e o fim urbano da tarde<br />
<br />
Com uma garrafa de vinho<br />
embaixo do braço<br />
com uma alegria e uma angústia no peito<br />
a nove de julho era eu<br />
com frio<br />
e nua<br />
a nove de julho me conheceu.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-67809524980200760992013-11-05T17:17:00.000-08:002013-11-17T12:38:37.551-08:00E vem de todos os lados<br />
a tal da falta que gera movimento<br />
E eu não entendo<br />
Essa insatisfação constante<br />
De só reconhecer depois<br />
a importância do instante<br />
De só amar depois que passa<br />
cada sentimento.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-38995800780648936202013-11-02T10:41:00.003-07:002013-11-02T10:44:06.750-07:00Menina com mania de organizar<br />
Organiza documento, armário<br />
e até o dia.<br />
Mas que boba essa menina,<br />
A felicidade é pra quem bagunça,<br />
desorganiza e inventa<br />
A vida é grande demais para caber em uma agenda.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-12816157418124913352013-10-29T19:17:00.000-07:002013-10-29T19:17:13.034-07:00Sou poeta de mim mesma<br />
Do vazio<br />
e do medo que me acompanha<br />
Quem leria os versos desordenados da minha vida?<br />
<br />
Mente obtusa<br />
vida desembaraçada<br />
Escrevo meus ventos<br />
Escrevo a minha rosa<br />
<br />
Sou poeta dos faróis altos<br />
dos apressados<br />
e dos mudos<br />
A lingua é maior viagem entre dois mundos.<br />
<br />
Um caminho largo e sonoro<br />
entre histórias<br />
Sou poeta e uso a palavra<br />
para subverter<br />
subverter as imagens<br />
que me causam<br />
sede<br />
insônia<br />
e dor.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-19693000152682440382013-10-29T19:09:00.000-07:002013-10-29T19:10:23.079-07:00A cabeça roda<br />
Os pés seguem<br />
Os olhos se perdem<br />
As mãos anseiam<br />
a escrita,<br />
salvação.<br />
<br />
Nesta tempestade<br />
a poesia é o meu barco.<br />
O caos atropela<br />
mas o desejo,<br />
continua a arder.<br />
<br />
Os meses passam<br />
E vem a saudade<br />
de quando não haviam fronteiras<br />
para os meus passos.<br />
<br />
Aprendi com o céu,<br />
as estrelas e o luar<br />
que todos vemos o mesmo<br />
quando olhamos para cima.<br />
<br />
O mundo é um giro<br />
Uma volta<br />
Um suspiro.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-72076228891995782572013-10-29T19:03:00.000-07:002013-11-04T16:35:21.368-08:00Quero te beijar na Metade do Mundo<br />
Nem pela metade<br />
Nem pela última vez<br />
<br />Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-59713761849583643952013-10-23T16:35:00.000-07:002013-11-04T16:39:59.122-08:00Eu te amo<br />
Como quem se despediu<br />
Sabendo que a ingenuidade foi rompida<br />
Sabendo que não haverá futuro<br />
<br />
Se nos juntarmos é temporário<br />
Se nos separarmos<br />
o vento leva<br />
e dita as direções<br />
<br />
Quase não vejo nada<br />
Nem do termo<br />
e do meio em que estamos<br />
De estar sem estar estando<br />
De amar, partindo.<br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; white-space: pre-wrap;">
</span>Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-53672147362177433132013-09-30T06:28:00.001-07:002013-10-02T07:05:32.670-07:00Acordei<br />
sentimento<br />
Mas sensível do que nunca<br />
vendo tudo que eu deixei<br />
voltar<br />
<br />
Girando no meio do velho<br />
sem saber o que de fato é velho<br />
sonhando<br />
em voar de novo<br />
não é hora de parar.<br />
<br />
Passa tudo<br />
e o novo vem<br />
aprendi na estrada<br />
nas estações, nos encontros e despedidas.<br />
<br />
O novo caminha em minha direção<br />
e eu caminho em direção ao mistério.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-22214310067383597002013-06-12T14:12:00.002-07:002013-06-12T14:17:36.015-07:00E ai veio a morte<br />
e como um redemoinho arrastou<br />
tudo, tudo que não se sustentava mais<br />
tudo que capengava<br />
tudo que estava meio firme, meio solto.<br />
<br />
E ai veio o caos<br />
varreu as ruas<br />
deixando tudo vazio<br />
cinza<br />
amargo<br />
como a solidão<br />
<br />
Frio como abandono<br />
sem sentido<br />
<br />
E ai veio a lágrima<br />
a dor<br />
as perguntas<br />
o sangue<br />
o desespero<br />
o grito<br />
<br />
A luta<br />
sigo em luta<br />
<br />
E ai veio a saudade<br />
a esperança<br />
a falta<br />
a lembrança<br />
o medo<br />
<br />
O sofrimento sorria<br />
e o tempo tudo assistia<br />
cálido, mudo.<br />
<br />
Gelado<br />
chão<br />
corpo aberto<br />
<br />
E ai chegou o abraço<br />
o afeto<br />
as palavras,<br />
os remédios<br />
<br />
Saiu o choro preso<br />
e finalmente o perdão.<br />
<br />
Nasceu pontos de cor<br />
azul, verde, amarelo<br />
eu vi o vermelho<br />
e a luz<br />
<br />
Do caos a criação<br />
ao oxigênio<br />
ao amor<br />
<br />
A vida envolvia o chão<br />
que não era mais chão<br />
era céu<br />
era nuvem<br />
era paz.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-45145798694215495822013-05-27T11:01:00.001-07:002013-06-02T16:35:22.536-07:00RiseSim, já sinto o seu cheiro entrando em mim.<br />
Liberdade,<br />
que sempre esteve aqui dentro,<br />
sorri.<br />
A hora é agora.<br />
<br />
Pés descalços.<br />
A energia vem do sol<br />
percorre o meu corpo<br />
e escoa na terra.<br />
<br />
Troca, fluxo.<br />
Pouco a pouco vou deixando os pesos para trás.<br />
Gente, medos,<br />
roupas e compromissos.<br />
A mala está cada vez mais vazia<br />
para encher.<br />
<br />
Vem liberdade<br />
percorre minhas veias<br />
infla meu peito.<br />
Inspiração,<br />
expiro coragem.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-9840718013448432562013-04-22T10:01:00.003-07:002013-04-22T10:01:58.749-07:00Nos braços seguro<br />
no ninho<br />
no apego<br />
tudo é sereno<br />
tudo se prevê.<br />
Estou saindo sozinha<br />
sem guarda-chuva<br />
quem me guarda?<br />
A luz do sol.<br />
Vem estrada,<br />
chega a hora de caminhar<br />
com meus pés<br />
Já consigo conviver com o limite<br />
Vou e vou com o vento<br />
Mas, eu volto,<br />
muito mais eu.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-20331089527834689522013-04-11T08:04:00.003-07:002013-04-11T08:04:55.503-07:00Eu posso suportar tudo,<br />
o silêncio, a dor, a falta.<br />
Eu posso sentir e aguentar<br />
todo esse tempo.<br />
Mas, por favor,<br />
não suje a nossa água.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-1106949495612187282013-04-03T07:32:00.002-07:002013-04-03T07:32:38.143-07:00<br />
<div class="MsoNormal">
Os cronopios preferem o acaso,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Assim eu te encontrei.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Encontrei o que fingiu ter morrido em mim<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Lágrimas, sangue, vontade de viver.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Preciso pular a janela <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O mundo deu uma volta dentro de mim.<o:p></o:p></div>
Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-14404525776800209742013-02-18T17:05:00.000-08:002013-02-18T17:09:37.960-08:00Mãe,<br />
me dê um banho de benção<br />
gelada<br />
salgada.<br />
Pele na areia<br />
pés no chão.<br />
Mãe,<br />
fortalece, levanta, cura.<br />
Me protege.<br />
No mergulho sinto o abraço<br />
e ouço o seu "siga em frente"<br />
Sigo mãe,<br />
com seu beijo de sal e perfume de sol.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-56442723349302726432012-10-23T11:42:00.002-07:002012-10-23T16:02:54.624-07:00O indizível,<br />
aquilo que se sente sem saber.<br />
Aquilo que embola na garanta,<br />
aperta o estômago,<br />
aquilo que arrepia,<br />
que dói e chora,<br />
dentro de mim.<br />
<br />
Como um feto diante do novo mundo.<br />
Prenderam meu viver<br />
nas grades do verbo.<br />
Nó atado e cego,<br />
que nada alívia<br />
a dor de existir. <br />
<br />
Me leva para qualquer lugar,<br />
só quero descansar,<br />
Só quero contemplar teu sol interior,<br />
Sou estrela que morre<br />
e que sente falta do que não viveu.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-34633387116937009702012-09-07T16:50:00.002-07:002012-09-07T16:58:41.729-07:00A mulher do quadro<span style="font-family: AngsanaUPC, serif; font-size: 18pt; line-height: 115%; text-align: justify;">Ela levanta, o mar lhe
espera: nua, leve. Talvez o amor esteja ao lado da cama. Talvez ela esteja
mesmo sozinha. Nua em frente à janela de frente ao mar. Leve, livre, serena,
eternizada em borrões de tintas claras. Presa em um quadro de tons azuis.</span><br />
<span style="font-family: AngsanaUPC, serif; font-size: 18pt; line-height: 115%; text-align: justify;"><br /></span>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "AngsanaUPC","serif"; font-size: 18.0pt; line-height: 115%;">Será que ela existiu,
enquanto o amor atrás dela pintava? Será que ele captou o sensível daquela
linda mulher, nua, leve, vestindo o seu roupão em frente ao mar?<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "AngsanaUPC","serif"; font-size: 18.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "AngsanaUPC","serif"; font-size: 18.0pt; line-height: 115%;">Com o olhar perdido,
nublado, com o tocar sereno de quem pede um abraço, um beijo na nuca, um
envolver-se em torno do teu ventre. Aquela mulher presa na parede é livre,
aquela mulher nua em tintas e pincéis tem o mar só para si, eternamente. <o:p></o:p></span></div>
Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-72178176529467181252012-09-04T06:28:00.003-07:002012-09-07T16:54:52.584-07:00Dona Dodô<span style="text-align: justify;">Ninguém sabia de onde ela veio ou
sua história. Ninguém sabia quem ela era. Muitas fantasias e poucas verdades.
Em um mundo que carece de mistérios, a invenção parece mais interessante. Dodô,
era assim que a chamavam, morava em um velho prédio localizado no subúrbio mais
abandonado da cidade. Um prédio caindo aos pedaços e com muitas escadas que
energicamente ela subia e descia murmurando os seus delírios.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p><br />
Cabelos grisalhos e longos
apontavam uma vaidade desleixada. Suas mechas lisas e cinzas iam até a altura
da cintura e me faziam pensar que ela era uma bruxa. Desde pequena, quando
minha mãe me contava histórias que tinham bruxas, era o rosto de dona Dodô que
eu via nestas personagens. Imaginava caldeirões e vassouras voadoras, gatos e
poções espalhadas pela mesa da sala. Sentia medo, mas ao mesmo tempo grande
interesse por aquela mulher. O tempo passou, ficaram para trás as histórias e
os medos, no entanto, hoje tenho certeza: dona Dodô só pode ser uma bruxa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A rotina de dona Dodô era
simples, vivia sozinha com um gato preto, nunca recebia visitas e só saia de
casa para fazer compras e dar o seu passeio solitário no final da tarde. Este
passeio, que acontecia todos os dias religiosamente, me permitia observá-la
melhor. Tinha a sensação de estar sendo invasiva por segui-la e ficar criando
histórias para entendê-la. Mas, gostava desta sensação clandestina de ter um
segredo que ninguém mais tinha. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os seus passos eram leves, andava
alienada do mundo, não via ninguém, não cumprimentava ninguém. Com certeza o
seu mundo particular era muito mais interessante do que o dos outros vizinhos.
Falava consigo mesma, em um idioma incompreensível, ria sozinha, reclamava
sozinha, para todos era a louca do bairro, para mim o enigma da existência.
Andava com roupas que me lembravam mulheres que frequentam igrejas evangélicas
no domingo. Saias longas e blusas de manga. Será que Dodô era religiosa? Vai
saber.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um belo dia, eu reparei que ela
estava usando uma aliança no dedo. Parecia estar feliz, prendeu os cabelos e
saiu de casa mais cedo do que de costume. Cumprimentei-a como sempre e
perguntei como quem esperava que ela me ignorasse: - Para onde vai assim tão
bonita dona Dodô? Ela rispidamente respondeu-me: - Hoje é a minha lua-de-mel. E
saiu flutuando pela rua.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não resisti e a segui. Ela caminhava
normalmente com uma felicidade que lhe era estranha. Parecia que tinha
descoberto algo extraordinário. Para mim ela era a personificação do
extraordinário, mas neste dia ela estava diferente. Não sei bem explicar. E
aquela aliança, aquela história de lua-de-mel. Já ouvi muitos dos delírios de
dona Dodô, suas viagens cósmicas, suas revelações apocalípticas, suas histórias
sobre um tempo remoto em uma roça familiar, mas nunca tinha escutado na sobre
casamento, amor e estas coisas que nos deixam andando abobalhados pela rua. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No subúrbio há algumas praias, muito bonitas,
mas pouco visitadas devido à distância ao centro da cidade. Dona Dodô, andava
em direção à praia das loucas. Tinha esse nome, porque antigamente havia um
hospício no terreno que hoje dá acesso a praia, e em algum dia algumas loucas
fugiram para tomar banho de mar. De alguma forma, dona Dodô estava reproduzindo
esta história, estava repetindo uma lenda. Dona Dodô sabia das coisas, ela era
uma mulher sábia, eu tinha certeza.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela chegou à praia e ajoelhou-se
em frente ao mar, rezou para algum ser do universo, em uma língua que eu não
compreendia. Levantou e começou a despir-se sem pudor. Tirou primeiro a sua
camisa de manga longa, exibindo seus seios grandes e enrugados e depois a saia
que mostrava um corpo marcado pela velhice e pela solidão. Dodô deitou na areia
molhada em frente ao mar, apertou os olhos e abriu as pernas, deixando a água
penetrá-la. Pude ouvi-la gemer alto de prazer com a água tocando seu sexo. Dodô
alucinava e sentia dentro dela a força do desejo do mar, como se fosse um
homem. Como se fosse seu homem.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dodô fez sexo com o mar, era a
sua lua-de-mel. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois que presenciei aquilo,
entendi porque Dodô era tão especial para mim, não necessitava de explicações
ou histórias, ela era o que era e isto era atemporal. Louca ou não, bruxa ou
não. Dodô era eu também, ela era a natureza e nada mais.<o:p></o:p></div>
Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-9788190540273096592012-08-23T07:45:00.000-07:002012-08-23T07:54:32.954-07:00Carta para Clarice<div style="text-align: justify;">
Quando deixamos nossa marca em um texto, eternizamos a nossa alma, e dessa forma eu pude te conhecer. Nos encontramos, eu te encontrei, muitos anos depois do silêncio dos seus sentidos. No entanto, encontrei você viva, com as inquietações mais pulsantes do que nunca. Comecei a beber da sua subjetividade bem depois de vomitar as minhas em linhas tortas. E foi um choque perceber que os desenhos das minhas letras vivas se pareciam os seus. A sua escrita fala pela minha e até o meu estilo de forma inexplicável, se parece com o seu. Mas como isso é possível, se só enxerguei tua força muito tempo depois de engatinhar na seara dos textos catárticos? Como esse encontro aconteceu com tanta afinidade e semelhança? Você é a mestra e eu humildemente ajoelho diante das suas escrituras. E de algum modo, mesmo sem conhecê-la acabo roubando sua obra sem saber que cometo um crime, sem saber sequer que tal obra existe e já possui dono. Assim como você, escrevo com o estômago, as vísceras, o útero. Escrevo com as entranhas os traços do cotidiano e talvez por isso, me identifique e te ame tanto, sem você sequer me conhecer.</div>
Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-12108632632219372282012-07-26T17:45:00.002-07:002012-08-07T19:35:18.234-07:00Pouco importa os pensamentos quando estamos correndo, ventilando o corpo.<br />
Queria ter um pulmão gigante para captar todo ar do mundo,<br />
de peito aberto e corpo fechado,<br />
forte.<br />
<br />
Não é possível conviver com tantas dores,<br />
tantos nós, tensões e mal-jeitos no corpo e na alma.<br />
Quero suar esses medos<br />
essa ansiedade.<br />
<br />
Porque me ensinaram que devo correr contra o tempo?<br />
Porque me disseram que tenho que ser tudo ao mesmo tempo?<br />
Meu corpo não aguenta essa doença,<br />
o louco mundo adulto que espere.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-4024139526930764132012-07-17T07:33:00.002-07:002012-08-07T19:35:09.794-07:00nada como um banho,<br />
sentir a água gelada percorrendo as costas<br />
limpando a dor,<br />
anestesiando os medos.<br />
<br />
em épocas de baixa-estima,<br />
inseguranças,<br />
nada como um banho<br />
para massagear a vida.Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-29353808315549534742012-07-14T08:25:00.000-07:002012-08-07T19:34:59.399-07:00arrepender-seA razão não comanda a fraqueza,<br />
o verbo do ódio, o vocábulo do desespero.<br />
Quem de nós, reprimidos,<br />
sabe o que é passear entre os extremos sem arder?<br />
<br />
Quando a boca fala o que o impulso quer,<br />
verdades, distorções e mentiras se confundem.<br />
Quando a razão sucumbe ao incêndio da mente,<br />
o orgulho dita as regras,<br />
o amor pula o muro<br />
e a sensatez adormece.<br />
<br />
O pior é não é o ato, o ímpeto, a chama<br />
ou as palavras malditas em direção as vidraças.<br />
O pior é o depois,<br />
o amanhã, a boca seca,<br />
a ressaca moral,<br />
o arrependimento.<br />
<br />
Como depois usar a máscara que a impetuosidade tirou?Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-32654706253848850932012-07-09T05:24:00.002-07:002012-08-07T19:34:42.625-07:00desconexo<div style="text-align: justify;">
É sobre a divisa mal explicada entre o presente e o passado, o limiar dos sonhos, fantasias e do possível. Gosto de pensar em mundos paralelos, já que a decodificação do que tá posto é pessoal e perceptiva. Mundos que convivem, que se entrelaçam, que divergem. Um conjunto de palavras soltas, vazias e sem sentido me definem hoje e o que eu contemplo me acalma e me sufoca, agora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estive um tempo longe dos cadernos, estava mais perto de mim mesma e dos textos impublicáveis que me compõe. Sempre fui o que quiseram que eu fosse, mas, de algum modo, algo em mim conseguiu fugir das regras impostas, meio que pelo buraco da fechadura, meio por de baixo da porta, há, e eu sei que há, um esconderijo em que a espontaneidade ainda mora. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um texto matutino e preguiçoso sou eu agora, postergando mais um compromisso, mais uma ordem, mais uma regra, nada espontâneo, nada da ordem do impulso. Criar um futuro improvável me salva do tédio do presente. Não, não é sobre tristeza, apatia e nada disso, é sobre o viver, seus recortes e descosturas. É sobre o afastamento necessário de algo que te impulsiona, apenas para olhar de longe, para amadurecer a ideia, para amortecer a crise.</div>Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-6107869908531464022012-05-21T06:55:00.000-07:002012-05-25T05:24:15.370-07:00Simples assim<div style="text-align: justify;">
Hoje eu não vou sair daqui. Hoje eu não vou fazer nada que eu não queira fazer. Não vou me entregar a roda-gigante dos meus iguais, homens sapos. Hoje eu vou passar a manhã inteira agarrada em seu abraço, sentindo o cheiro da sua alma, te amando, te amando devagar e eternamente. Hoje eu vou passar o dia inteiro de pijama, te olhando, me entregando devagar e eternamente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Quando sentirmos fome, faremos da cozinha o nosso laboratório de alquimia. Misturaremos ingredientes no nosso ritual mágico e depois sentados no chão sentiremos cada sabor percorrendo e arrepiando os nossos sentidos. Olhando um para o outro com a cumplicidade de quem divide um segredo, uma sensação, um amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Depois que tomarmos banho, cuidando de cada parte do nosso corpo, acarinhando e agradecendo a matéria que instrumentaliza a nossa existência, nos despediremos com saudade antecipada, com o ardor do sentimento vivo. Você vai embora e eu decidirei arrumar as coisas. O meu cantinho, o meu jeitinho. Quanta coisa acumulada, suja, empoeirada, fora do lugar. Minha mente estava assim, desorganizada, confusa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Arrumar as coisas dá a falsa sensação de que é possível arrumar a vida. Controlá-la, como este texto, cheio de eventos controlados. Hoje eu só farei aquilo que eu quiser fazer, hoje eu vou passar a manhã agarrada em seu abraço e só. O que tiver de acontecer depois, será espontâneo e verdadeiramente simples.</div>Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6685127793970768475.post-61030126376616575782012-05-15T13:14:00.002-07:002012-05-25T05:25:11.205-07:00Ansiedade<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRZwwkZv6snTiqFtrhhD93TBX-PVDq0ounUsCMndZ-dhQWZdUfYlTMNsizme24MJ-VzUjnd72xeKl_lhRfuSpn-B9qaqQDxIkSfVGwhzYd0XUsFRDSvR5pWS5x6pFeLw7u7C7IujphwwI/s1600/DSCF8232.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRZwwkZv6snTiqFtrhhD93TBX-PVDq0ounUsCMndZ-dhQWZdUfYlTMNsizme24MJ-VzUjnd72xeKl_lhRfuSpn-B9qaqQDxIkSfVGwhzYd0XUsFRDSvR5pWS5x6pFeLw7u7C7IujphwwI/s320/DSCF8232.JPG" width="240" /></a></div>
''Eu gostaria que fosse diferente", tem sido a frase mais dita nos últimos tempos. A minha ansiedade não é só corporal, é verbal também. Mal da humanidade essa insatisfação contínua, que simula levar a algum lugar e não leva a nenhum. Estou ansiosa agora enquanto escrevo. Estou entediada com o tempo livre para fazer todas as coisas que planejei, mas sem conseguir fazer nada por completo. Vivo para fazer listas de organização, planejamentos, mas não faço nada. Começo um, largo no meio, me entedio fácil. Perco o interesse pelas coisas. Minha mente funciona numa velocidade infinita e permanecer no presente é a tarefa mais díficil. Vivo em busca de algo que não tenho e quando alcanço, mergulho pouco, logo arranjo outra coisa para desejar. Nada tem me completado. Sinto saudades de viver de fato aquilo que eu faço, colhendo seus ganhos e danos, esquecendo o mundo lá fora. Estou tendo uma crise de pânico agora, meu coração está disparado. Quero ir embora daqui. Quero ir embora de tudo. Não fico em nada, não paro em nada. Coisas que me pedem esforço, dedicação, coisas que exigem que eu pense muito, canse muito, me deixam exausta. Largo tudo pelo caminho e não estou conseguindo me encontrar neste olho do furacão. Quero largar esse texto pelo caminho agora por exemplo, estou cansada dele. Estou ficando louca, estou no ritmo do fracasso. Me arrependi de falar tanto que quero tudo, ao mesmo tempo e agora.</div>Camilla Verashttp://www.blogger.com/profile/01609172466511280095noreply@blogger.com0