sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Casa abandonada

Tudo está em silêncio. Cadê todo mundo? Não escuto mais barulhos de risadas, nunca mais ouvi vocês fazendo planos mirabolantes. Confesso, vocês me entretinham com essa ingenuidade de acreditar no para sempre. Achava engraçado a forma como vocês se divertiam por qualquer coisa. Acho que sempre senti um pouco de inveja, mas seilá, eu torcia por vocês, várias vezes tomei as dores quando vocês foram injustiçados. Sabe, eu rezei por vocês, apesar de achar tudo aquilo perfeito demais, improvável demais. Mas, o que foi que aconteceu? Vejo um dos armários vazios, quem é que foi embora? Porque foram e me deixaram aqui? Tendo que viver a minha vida sem graça, sem amor e sem tesão. Puta merda! Eu estou chorando agora. Vocês terminaram. Vocês não podiam ter terminado. Não podiam ter jogado toda minha crença no amor verdadeiro fora. Eu amava vocês... Vocês se amavam. Porque virou passado? Voltem! Voltem para mim.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Achei o roteiro do nosso filme na gaveta.


Confesso que passei algum tempo pensando se valia ou não a pena reviver e escrever tudo isso. Mas é incrível como algo anteriormente grande e muito significativo se tornou esquecível e quase inexistente. Sempre foi inadmissível para mim essa coisa de grandes amores virarem bom dia. Como assim alguém que eu amei, que eu compartilhei minha vida, que eu ri junto, que eu entreguei meu corpo aberto, hoje se transforma assim em um desconhecido desses que a gente vira o rosto quando passa na rua?

Não é saudade ou qualquer coisa relacionada a sentimento, é apenas estranheza do que isso se tornou. Acredito que você também não esperava por isso, apesar de que também acho que não é algo que ainda passe pela sua cabeça. Estamos muito bem em nossas vidas, bloqueados e inacessíveis.
Contudo, lendo uns textos antigos, senti uma lacuna temporal, como se todo aquele tempo fosse milagrosamente apagado da memória. A forma como as coisas acabaram contribuiu pra isso, claro, mas arrependida ou não, um dia eu te disse que te amava. Um dia eu era sua com o pé entrelaçado no seu. Como pude esquecer a forma como você sorria quando eu fazia isso?
Eu esqueci você como quem esquece algo trivial e você nunca foi trivial para mim. Meu Deus, como eu gostava de você! Como eu gostava das músicas que você ouvia, do seu sexo, das suas ideias, do seu silêncio. Como seu olhar me envolvia, como você me inspirava a escrever e a querer você.
Hoje eu tomei um susto porque percebi sua insignificância para mim. Não deveria ser assim, a gente sabe disso. Mas é isso, agora eu volto para o meu atual outubro, um ano depois daquela conversa improvável, naquele acontecimento do destino, em um dos dias mais inesquecíveis das nossas vidas.
Sentimental e sem subverter sentimento. Assim como aquela banda nunca mais vai voltar, a gente também não. Nem para ser amigo, nem para ser conhecido. Se hoje eu não recuperasse o que restava da existência disso, nada teria acontecido de fato entre nós dois.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Bebendo por toda dor humana.
Um brinde à crise e ao caos.
Impotência
ideológica, sexual, impulsiva.
Racionamento da razão,
atrofia,
falência múltipla do visceral.
Falta sangue nesses olhos,
aquele sangue de luta
que um dia orgulhou o mais arrogante,
o mais genial dos homens.
Falta sangue.
Desordem!
Esta cidade terminou de bagunçar minha guarda
e no varal estão fotos e notícias desatualizadas.
Usadas, gastas, feitas e refeitas.
Desejo,
aceito tudo
só não me torture, não me ampute, não me castre.
Preciso arder e inventar
em troca do gozo.

sábado, 1 de outubro de 2011

Poema de bolso,
manhã hostil.
Porque essa flor me irrita?
Porque não consigo regá-la?
Mulher desequilibrada.
Eu gostaria de entender você.