domingo, 18 de dezembro de 2011

Rodo cotidiano

Bloco A, lado D, número 45. Endereço de Zé ninguém, sem registro. Almas escondidas em cada rua ou viela, bibliotecas humanas degraus abaixo do nada. Fantasmas sociais, carcaças vagas e vivas. Penando oportunidades, penando melhores condições. Obras-primas, tias e mães, exploradas e não reconhecidas. Encostadas no museu da previdência social. Sábias anciãs ao lado dos seus medicamentos, objetos de protesto, concretos, nada funciona. Ladeira, jardim da esperança. Errei de bairro, errei de rumo. Lugar estranho pra se ter esperança. Lugar errado. Está tudo errado. Já perdeu algum filho? E isso é pergunta que se faça menina? Sim, perdi sim, perdi pro tráfico, perdi pra guerra, perdi pro álcool, perdi,  foi trocado por um salário minimo. Perdi José para as 48h semanais. Domingo é dia de fé e perco mais um pouco junto com o dízimo. Vila dos mortos vivos, dos sobrecarregados, dos brasileiros felizes, da cerveja nos domingos e do prazer culpado. Vila da batalha, das trincheiras e canhões. Balas sonoras, barulho de gritos. Alguém pede socorro? Não! Socorro mora no andar de cima, é que está faltando um pouco de farinha para o bolo terminar.