segunda-feira, 21 de maio de 2012

Simples assim

Hoje eu não vou sair daqui. Hoje eu não vou fazer nada que eu não queira fazer. Não vou me entregar a roda-gigante dos meus iguais, homens sapos. Hoje eu vou passar a manhã inteira agarrada em seu abraço, sentindo o cheiro da sua alma, te amando, te amando devagar e eternamente. Hoje eu vou passar o dia inteiro de pijama, te olhando, me entregando devagar e eternamente. 

Quando sentirmos fome, faremos da cozinha o nosso laboratório de alquimia. Misturaremos ingredientes no nosso ritual mágico e depois sentados no chão sentiremos cada sabor percorrendo e arrepiando os nossos sentidos. Olhando um para o outro com a cumplicidade de quem divide um segredo, uma sensação, um amor.

Depois que tomarmos banho, cuidando de cada parte do nosso corpo, acarinhando e agradecendo a matéria que instrumentaliza a nossa existência, nos despediremos com saudade antecipada, com o ardor do sentimento vivo. Você vai embora e eu decidirei arrumar as coisas. O meu cantinho, o meu jeitinho. Quanta coisa acumulada, suja, empoeirada, fora do lugar. Minha mente estava assim, desorganizada, confusa. 

Arrumar as coisas dá a falsa sensação de que é possível arrumar a vida. Controlá-la, como este texto, cheio de eventos controlados. Hoje eu só farei aquilo que eu quiser fazer, hoje eu vou passar a manhã agarrada em seu abraço e só. O que tiver de acontecer depois, será espontâneo e verdadeiramente simples.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Ansiedade

''Eu gostaria que fosse diferente", tem sido a frase mais dita nos últimos tempos. A minha ansiedade não é só corporal, é verbal também. Mal da humanidade essa insatisfação contínua, que simula levar a algum lugar e não leva a nenhum. Estou ansiosa agora enquanto escrevo. Estou entediada com o tempo livre para fazer todas as coisas que planejei, mas sem conseguir fazer nada por completo. Vivo para fazer listas de organização, planejamentos, mas não faço nada. Começo um, largo no meio, me entedio fácil. Perco o interesse pelas coisas. Minha mente funciona numa velocidade infinita e permanecer no presente é a tarefa mais díficil. Vivo em busca de algo que não tenho e quando alcanço, mergulho pouco, logo arranjo outra coisa para desejar.  Nada tem me completado. Sinto saudades de viver de fato aquilo que eu faço, colhendo seus ganhos e danos, esquecendo o mundo lá fora. Estou tendo uma crise de pânico agora, meu coração está disparado. Quero ir embora daqui. Quero ir embora  de tudo. Não fico em nada, não paro em nada. Coisas que me pedem esforço, dedicação, coisas que exigem que eu pense muito, canse muito, me deixam exausta. Largo tudo pelo caminho e não estou conseguindo me encontrar neste olho do furacão. Quero largar esse texto pelo caminho agora por exemplo, estou cansada dele. Estou ficando louca, estou no ritmo do fracasso. Me arrependi de falar tanto que quero tudo, ao mesmo tempo e agora.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Oração

Oh pai, oh mãe terra, me abençoe. Permita que a energia do sol se transforme em fé pelo meu corpo. Que as minhas costas não sustentem mais o peso do hábito. Oh árvore da vida, me ensina a ter raízes profundas para sustentar o meu espirito flutuante, me ensina a respirar a vida que também corre no meu sangue. Sou feita daquilo que compõe o mundo. Sou feita de estrelas, lixo e gente. Sou feita, fui feita. Oh mãe que rege as águas fluídas e fortes, me explica a minha missão nisso tudo, pois meu corpo pede calma, alento. Meu corpo pede expressão.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Em um mundo monocromático uma aquarela reconhece a outra. Desde que vi os calos nos seus dedos avinhei com que você tanto trabalhava durante a noite. Reconheci nos seus olhos inflamados a angústia chorada e me entendi em você. Nenhum normal pode conhecer e muito menos entender o que se passa entre a gente, afinal tenho guardado em segredo todas as cartas de amor que os seus olhos escrevem para mim. No mundo das vitrines e dos corpos, consigo enxergar seu espirito se debatendo entre as paredes da matéria. Consigo perceber pela velocidade com que você respira, o seu abafamento, a sua prisão. Descobri você no acaso, primeiro os calos, depois os olhos, depois a respiração. Não demorou muito apareceram mais pistas e me perdi neste enamoramento. Eu te enxergo, você também me enxerga. Pluma perdida na fumaça, cinema mudo, pernas que caminham juntas sem se comunicar. Incompreendidos, isso que somos, ou pelo menos éramos. Eu compreendo você. A solidão já não me encontra, pois em algum borrão de tinta de um quadro qualquer, em uma melodia simples ou mesmo erudita, em alguma poesia ou uma história contada por um velho na praça eu estarei respirando você.