Hoje eu não vou sair daqui. Hoje eu não vou fazer nada que eu não queira fazer. Não vou me entregar a roda-gigante dos meus iguais, homens sapos. Hoje eu vou passar a manhã inteira agarrada em seu abraço, sentindo o cheiro da sua alma, te amando, te amando devagar e eternamente. Hoje eu vou passar o dia inteiro de pijama, te olhando, me entregando devagar e eternamente.
Quando sentirmos fome, faremos da cozinha o nosso laboratório de alquimia. Misturaremos ingredientes no nosso ritual mágico e depois sentados no chão sentiremos cada sabor percorrendo e arrepiando os nossos sentidos. Olhando um para o outro com a cumplicidade de quem divide um segredo, uma sensação, um amor.
Depois que tomarmos banho, cuidando de cada parte do nosso corpo, acarinhando e agradecendo a matéria que instrumentaliza a nossa existência, nos despediremos com saudade antecipada, com o ardor do sentimento vivo. Você vai embora e eu decidirei arrumar as coisas. O meu cantinho, o meu jeitinho. Quanta coisa acumulada, suja, empoeirada, fora do lugar. Minha mente estava assim, desorganizada, confusa.
Arrumar as coisas dá a falsa sensação de que é possível arrumar a vida. Controlá-la, como este texto, cheio de eventos controlados. Hoje eu só farei aquilo que eu quiser fazer, hoje eu vou passar a manhã agarrada em seu abraço e só. O que tiver de acontecer depois, será espontâneo e verdadeiramente simples.
Nenhum comentário:
Postar um comentário