quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Solidão

É quando você chega em casa e despeja os cadernos no sofá. É no fim da noite, quando não tem ninguém em casa e os aparelhos eletrônicos estão desligados. É quando ninguém mais te telefona e você não tem mais compromissos pra fugir de si mesmo. É quando é só você e o seu vazio, você e o seu silêncio. E você se olha de frente, através da pele, através das máscaras e se pergunta qual o sentido de tudo, dos livros, das viagens, do dinheiro, do emprego, dos relacionamentos, e quase não sente nada, por nada nem por ninguém, nem por você mesmo.

A solidão percorre cada cômodo da sua casa, deita do seu lado na cama e insiste em se juntar no seu jantar quieto. Que medo deste silêncio! Que medo de escutar sua própria voz lhe lembrando das suas falhas. Medo que inquieta ou deprime, que faz andar de um lado para ao outro ou simplesmente dormir, dormir pra não ter de pensar. E quando não adianta? Quando além de sozinho a insônia surge pra lhe pirraçar? Você se entope de remédios ou vai ler, ou quem sabe encontra alguém só e insone como você para conversar na internet. O que interessa aqui, é que você não se suporta, não suporta este vazio, não suporta e não sabe conviver com este silêncio incomum. Até consegue, à luz do dia, em meio a multidões, mas quando chega o fim da noite... Você foge.

De qualquer forma, não tem como não abraçar esta solidão por alguns minutos, não tem como não passar alguns minutos com o olhar perdido lembrando de alguma coisa que você achou ter deixado pra trás. Não tem como você não sentir falta dos seus pais, ou dos seus amigos ou parceiro, ou quem quer que seja. Não tem como você não senti um pouco de falta de você mesmo, de quem você era a 2, 5, 10 anos atrás e da sua vida com menos crises existenciais e pensamentos nostálgicos.

Esta solidão tanto lhe assombra porque questiona os seus hábitos automáticos, porque lhe indaga sobre questões teoricamente estabilizadas, como seu trabalho ou relacionamento amoroso. Você tem medo de ouvir de si mesmo que precisa sair da posição cômoda e mudar tudo. Tem medo de ouvir que não ama mais aquele homem ou mulher, que não quer mais aquele curso, ou que simplesmente não quer mais viver.

E por isso, eu peço por você e por mim: Querida solidão, deixe-nos sozinhos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sobre esse amor...

Escrever sobre o nosso amor, parece ser uma tarefa impossível.
Amor que persiste na distância e no tempo.
Amor que existe, já que não pode ser vivido.
Fruto da nossa projeção, da nossa idealização.
Romântico, intenso e fatal...
Fatal para nossa saúde, para a nossa saúde mental.

Por isso a distância,
por isso o espaço,
por isso a saudade.

E o esforço para esquecer, só faz esse amor aumentar...

Que vontade de não fazer o que é certo,
que vontade de ficar perto,
e tomar esse amor em um único gole,
esmiuçando todos os seus detalhes,
todas as suas fraquezas, lacunas e brechas.

Amor que se auto-sustenta afastado dos seus amantes.
Amor que virou entidade própria, humana , viva...
Independente de mim, independente de nós.
Como pode um amor existir sem seus criadores?

Ah, que vontade de destruir esse amor vivendo.
Vivendo, estragando, devorando.
Até decepcionar as nossas expectativas...

Agora me diz, porque a gente tem tanto medo disso?

domingo, 19 de setembro de 2010

Versos de cabeçalho.

Evito te encontrar,
como se quisesse ganhar tempo,
tempo pra me preparar.

Talvez,
eu já saiba o que vai acontecer quando eu te ver,
mais uma vez vou perder um pouco de mim,
o pouco que entreguei a você.

É como se eu soubesse,
que o dia que eu te encarasse novamente,
as coisas acabariam entre nós.

Não me deixe

Não me deixe regredir.
Não me deixe andar pra trás,
mesmo que eu insista em correr em direção aquele velho abismo,
que eu custei tanto a sair...
Por favor, me segure, me amarre, me interne,
mas, não me deixe voltar lá.
Naquele lugar em que eu só faço errar.
Naquele lugar onde ficar bem é sofrer.
Não me deixe voltar.
Não me deixe adoecer.
Não me teste, não desista de mim.
A única coisa que eu te peço,
é que você não me deixe ir.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Eu me escolhi




Eu escolhi não te escolher, eu escolhi me livrar das coisas que me faziam mal. Isso me lembra um texto que li quando mais nova, onde Chaplin com sua genialidade descreve o autoconhecimento gerado a partir da aquisição do amor mais importante, o amor-próprio. Pois então, acho que me encontro agora neste momento, permeado por um egoísmo saudável, que me coloca no centro do meu próprio mundo, onde eu tenho autonomia e poder de escolher o melhor pra mim.

Realmente, não tenho idéia de quem sou, quase comprei alguns rótulos ao longo da minha vida, alguns estereótipos sociais que categorizam as pessoas como produtos, como se fosse simples assim. "O tímido", "A extrovertida", "A desastrada", palavrinhas simples e perigosas que pressupõe, muitas vezes, que numa mesma pessoa não possa existir opostos, ou mesmo tudo. É lógico que em determinados momentos na vida, algumas características sobressaem mais que outras, isso é fato, mas, não significa que eu resuma a este conjunto de atributos referentes a mim. Eu não sou uma palavra, que se fecha em sua semântica e fonética específica, eu posso mudar a todo momento, eu posso ser boa e má na mesma intensidade. Bom, é por isso que não sei quem sou, e provavelmente nunca vou ter essa resposta. Na melhor das hipóteses posso arriscar saber quem sou agora, mas vestir essa roupa como uma armadura? Não, eu me recuso.

Então, voltando ao meu raciocínio prolixo - adoro essa palavra, sooa tão bonita - estou numa posição arriscada, que exige responsabilidade, afinal tenho tomado algumas decisões difíceis, como esta de não te escolher. Mas, confesso, estou pensando mesmo em mim. Pergunto-me todos os dias: O que eu quero fazer agora? Pode ser a coisa mais fútil e simples, mas tento me presentear e apreciar a concretização daquele desejo imediato, sim, estou mesmo me mimando, e porque não?

Nunca gostei tanto, quanto agora, de estar em minha própria companhia, nunca gostei tanto de fazer algo, sem um porque lógico ou um objetivo específico, somente pelo prazer do momento. Os meus últimos momentos de felicidade plena foi fazendo coisas inúteis ou bobas, exemplo, ficar repetindo minha palavra preferida em francês (Adore) me deliciando com a sua musicalidade e beleza, até rir sozinha de mim mesma, ou então, ficar super feliz com um corte novo de cabelo. Coisas assim, "irrelevantes" fazem parte do momento que estou agora, um momento hedônico, de descoberta do que me agrada, do que não me agrada, do que eu quero alcançar e do que eu quero eliminar. Tenho me perdoado muito também, sei que tou me educando muito mal, mimando e perdoando, mas sempre fui severa demais com minhas próprias falhas, sempre exigi muito de mim, para quê? Para quem? Talvez essa seja a questão que eu preciso responder.

Tenho cuidado muito de mim também, sem o clichê do jardim e das borboletas de Shakespeare. Larguei alguns vícios, principalmente os que envolviam relacionamentos, diminui minhas tarefas, tenho dormido mais horas, tenho me alimentado melhor, tou em dias com o médico (nem tanto), tenho lutado contra o desleixo de cuidar da minha aparência fisica, mas o principal, tenho me cuidado espiritualmente, sem ser filiada a nenhuma religião, afinal, detesto normas de fé. A minha fé brota quando eu vejo uma criança nascendo e mamando, ou um pôr-do-sol. A minha fé é extremante eclética, pessoal e miscigenada, sinto-me filha de Yemanjá, acredito na energia da natureza, me considero espírita, sou curiosa das religiões orientais, fui batizada no catolicismo, já me emocionei muito em cultos protestantes, sou uma pisciana nata, energizo frequentemente cristais e para completar estudo psicologia e adoro a área dela que vai de contra tudo isso que eu citei, a área cética, ateísta. Devia estar numa crise identitária por isso, mas não, eu estou tranquila. Estou descobrindo aos poucos que eu não preciso ser coerente, parafraseando Mário Quintana, não faço força para ser entendido, quem faz sentido é soldado.

E quando eu digo que não te escolhi, não se ofenda, eu não te escolhi por sua causa, mas porque dessa vez resolvi escolher a mim. Estou exercendo o "1,2,3 salve eu", pode ir um pouco de contra aos valores de solidariedade, amor ao próximo, caridade, mas foda-se, eu percebi que pra eu cuidar de alguém eu tenho que cuidar de mim primeiro, que para eu revolucionar o mundo, eu tenho que limpar a sujeira do meu próprio, enfim, eu me permiti, para poder ficar mais preparada para, finalmente, escolher você.

E quem é você? Você é toda simbologia de outro, você é o que tem que vir pra somar, não pra acoplar e virar um só. Você é a profissão que eu escolhi fazer, é meus pacientes, é as pessoas que precisam de mim, é minha família, são as minhas paixões, são os meus amigos. Você é qualquer coisa que não seja eu, se bem que isso é bem confuso, porque nossa interação é bidirecional e a gente se modifica, ao ponto do meu "eu" ter muito de você. De qualquer forma, é uma escolha temporária, não sobreviveria muito tempo se não fosse, mas preciso mesmo dessas férias de você e conhecer a mim mesma, mesmo que eu saiba que é uma missão contínua. Por fim, desejo-me sorte e te desejo paciência.
E que assim seja.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sincronicidade


6h30, o despertador avisava que o dia dela começaria. Levantou sonolenta, entrou no chuveiro e deu inicio ao seu ritual matinal sagrado. Corria pela casa de forma a otimizar o seu tempo, ao passo que no mesmo instante em que se vestia, arrumava a bolsa, escovava os dentes e preparava o café. Ela fazia isso religiosamente, todos os dias, a fim de chegar em seu trabalho com uma folga de horário.

6h30, ele estava atrasado, mais do que atrasado, deveria ter acordado à 1h atrás. Deu um pulo da cama meio atordoado, correu pra o banheiro tropeçando nos móveis, tomou um banho de dois minutos, comeu um pedaço de pão com café gelado e saiu quase correndo, ainda abotoando a camisa.

6h45, não bastava estar atrasado, ainda precisou encarar a chuva. Todo molhado, corria pela rua pensando: "Hoje não é meu dia, hoje não é meu dia". Parecia até brincadeira, mas só no meio do caminho percebeu que tinha esquecido um documento, o único que ele não poderia ter esquecido. Voltou correndo mais rápido ainda, xingando todos os palavrões que conhecia, pegou o documento e repetiu aquele percurso ainda mais afoito.

6h50, ela caminhava lentamente pelos quarteirões da sua rua, cumprimentava os vizinhos, contemplava a paisagem e o dia. O céu estava meio nublado, já devia está chovendo do outro lado da cidade. As nuvens avisavam que em poucos minutos começaria a chover ali também, mas estava tranquila, afinal como era sempre prevenida, tinha um guarda-chuva a tiracolo. Andou um pouco, ajudou uma senhora que cruzou o seu caminho que tinha dificuldades em localizar um endereço, parou mais um pouco, dessa vez para admirar a vitrine de uma loja de roupas, e seguiu seu caminho, sem pressa.

7h00, chegou na estação de trem, ainda tinha tempo, o trem só sairia da estação às 7h20, resolveu sentar num assento do vagão, folear um jornal antigo e esperar.

7h19, ele chega afoito e esbaforido na estação, já tinha perdido o primeiro trem, não poderia perder o segundo que já estava saindo, correu e por muito pouco conseguiu entrar no trem, sentou no primeiro lugar que viu disponivel, só pensava que precisava se ajeitar, arrumar a roupa e os cabelos encharcados e tentar salvar o dia, que já tinha começado mal.

7h20, eis o encontro, ou melhor, o reencontro. Ele sentou, e subitamente ela levantou as vistas por cima do jornal, ao mesmo instante que encontraram com as dele. Numa mistura de surpresa, alegria e espanto, os dois, quase que ao mesmo tempo se dirigiram um ao outro: "Você?"

Riram juntos daquela situação embaraçosa, depois de 5 anos eles se reencontravam ali, num vagão de trem, assim ao acaso (ou não). O fato é que um conjunto de circunstâncias, da vida dele e da vida dela, proporcionaram que eles se encontrassem naquele exato momento. Se ele não tivesse se atrasado, se ela não tivesse andado calmamente, se ele não tivesse voltado em casa, se ela não tivesse olhado a vitrine, muito provavelmente eles não se encontrariam ali.

Possivelmente eles não se deram conta, dessas jogadas que a vida faz, dessa tal sincronicidade que faz com que determinadas coisas aconteçam em momentos tão exatos, onde um segundo sequer, para mais ou para menos, tem o poder de modificar toda história. O que aconteceu depois, não importa muito, o importante é que o destino ou o acaso, esquematizou aquele encontro, de antigos namorados que se perderam com o tempo e com a imaturidade, mas que agora 5 anos depois, num vagão de trem, se reencontram e modificam um ao outro, porque era assim que tinha que ser.


Baseado em:


*Filmes:

Ironias do Amor
Tudo pode dar certo


**Clipe da música : Bad Day - Daniel Powter


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Coisas que gostaria de confessar a você...


Você, eu e um silêncio ensurdecedor, naquela noite que parecia não ter mais fim. Eu de cabeça baixa, sem coragem de encarar seus olhos e sem coerência alguma para elaborar uma frase com sentido, permaneci impassível diante da ansiedade com que você indagava seu relógio de cinco em cinco minutos.

- Preciso ir embora. - Disparou interrompendo a mudez sufocante daquele momento.

Foi a primeira vez que eu olhei o seu rosto aquela noite. Acompanhei você levantando do banco com movimentos comedidos, afastando-se de mim, e como num ímpeto, num impulso daqueles que parece que o corpo pensa antes da razão, segurei seu braço e pedi que você ficasse mais um pouco.

- Senta aí, eu preciso lhe confessar algumas coisas...

Lembro como se fosse hoje, a sua cara de espanto. Afinal, você nunca tinha me ouvido falar com tanta firmeza; eu nunca havia pedido um minuto se quer, a mais do que você estava disposto a me dar, era a primeira vez que te impedia de ir. Respirei fundo e sem pensar nas consequências, comecei a falar, afinal se fosse pra ir embora que fosse sabendo de tudo.


- Antes de tudo quero que você saiba, que ficar com você foi resultado de uma aposta que eu fiz num bar com uns amigos, na qual o preço a ser pago, caso eu perdesse, era o de ficar com quem eles escolhessem. É, acho que seria redundante dizer que eu perdi. Quando eu soube que você era o escolhido, eu ri bastante, achava que seria facílimo te conquistar e achava que você era tão bobo, que não representava ameaça alguma a meus sentimentos. Ah! E tem outra coisa, quando eu fiquei com você pela primeira vez, não gostei do seu beijo, mas não posso negar que sua envolvência, seu cheiro e seu corpo febril, me despertou curiosidade sobre você. Sabe, também quero te contar, que eu menti pra você diversas vezes, descaradamente e friamente, que eu já fingi sorriso, já fingi tristeza, e o pior, eu te trai. Sim, eu te trai. Não me olhe assim, trai e não me arrependo. Fiquei com seu melhor amigo naquela festa que você precisou ir embora mais cedo, lembra? E pior ainda, fiquei mais de uma vez, sai com ele, me diverti com ele, dormi com ele, enquanto desligava o celular pra não correr o risco de receber suas ligações. Na verdade, fiz tudo isso porque tava querendo fugir de você e fugir da prisão que eu estava me metendo, a prisão de me apaixonar por você. Eu não queria me apaixonar, eu fiz de tudo pra que isso não acontecesse, te evitei, me afastei, te trai, até disse a você que precisava de um tempo, você lembra? Pois é, sobre esse tempo, eu também preciso te confessar algumas coisas, depois que eu te dei as costas aquele dia, eu conheci o amargo que é a sensação de ter cometido o maior erro da vida, mas como minha mente pensa depois que meu corpo, minha primeira reação foi chorar compulsivamente. Pois é, eu chorei por você, e não foi uma vez só, eu chorei várias noites, tardes e dias seguidos por você, eu não sabia se tava chorando por sentir sua falta, ou se tava chorando por me ver naquela situação ridicula, mas eu chorei, eu me abati, eu não estudei, eu não dormi, eu não comi, eu só queria você, eu só pensava e falava de você, logo você, o amor que eu tanto reneguei. Porém, meu orgulho não permitiu te contar isso, mas vou te confessar, aquele reencontro por acaso, de acaso não teve absolutamente nada, eu já sabia que você estaria ali e fui propositalmente para me mostrar a você. Quero confessar, que assim que te vi quase pulei em seu pescoço e me declarei, mas como sou idiota me fiz de dificil, acho que funcionou, afinal nós voltamos...Pois então, tenho mais outra coisa a dizer... Desde que voltamos, sem você saber, eu fiz tudo pra ser boa suficiente pra você. Eu li todos aqueles livros chatos, eu vi todos seus filmes preferidos, escutei todas as músicas que você adorava, suportei seus amigos e ensaiei frases inteligentes pra te surpreender, é, não se espante, eu, logo eu, tão arrogante e vaidosa, fiz tudo isso por você. Sabe, eu entendo que você me odeie depois de tudo isso que te falei, e eu vou entender também se você não quiser nem falar mais comigo. Mas, a pior de todas as minhas confissões vem agora. É a pior porque eu não poderia ser mais sacana com você te dizendo isso num momento como esse, no momento em que você, que sempre zelou tanto por mim, me deixa por ter perdido a paciência com minha indiferença. Você vai me odiar, eu sei, afinal eu esperei seu sentimento acabar pra te contar isso, a minha última confissão...


Nesse momento, meus olhos já estavam cheios de lágrimas. Minhas mãos trêmulas pareciam afetar seu semblante, que deram lugar a uma expressão preocupada. Me calei, para conter a emoção que tava sendo transbordar em sua frente, procurei ar, como se quisesse recuperar a coragem de confessar o que faltava e voltei a falar.

-Pois então, minha última confissão é que eu te amei todos aqueles dias e continuo te amando agora. Foi AMOR, amor mesmo, daqueles que a gente conta nos dedos quando envelhece. Essa é a última coisa que eu queria te confessar, a coisa que te deixaria o homem mais feliz do mundo se eu dissesse a 1 mês atrás, mas que agora eu sei que vai te causar sofrimento. Me desculpe! Mas é isso, eu te amo.

O silêncio voltou a reinar, era um silêncio diferente, era quase um estado de choque pra você e uma sensação de desmoronamento pra mim, tinha me aberto por inteira, sem segredos, sem poses, sem farsas, me esparramei no chão. Abaixei meus olhos de novo e me surpreendi quando senti que você se aproximava de mim, fui deixando sentir sua presença, deu pra escutar que você também chorava, nunca tinha te visto chorar. Você passou a mão levemente em meu cabelo, levantou meu rosto, olhou bem fundo dos meus olhos, acariciou meu rosto lentamente, me deu um beijo na boca, um beijo devagar, como se estivesse se despedindo de cada gosto, de cada espaço, daquela boca que era tão sua, e me abraçou.

- Eu também te amo. - Falou calmamente, com a mesma ternura de sempre.

Meu coração disparou, quase achei que aquilo era um perdão, quase me animei. Até que você interrompeu meus pensamentos e continuou a falar olhando em meus olhos.


- Mas... Nosso relacionamento acabou! Eu vou embora agora, vou levantar e vou sair da sua vida. Só peço que você se cuide, que tenha juízo e que não seja mais tão idiota, de achar que vai se proteger evitando demonstrar seus sentimentos.


Dizendo isso, você levantou, me deu um beijo na testa, virou as costas e sumiu no breu daquela noite que não passava, e me deixou ali, sozinha, ferida e com uma quantidade imensa de amor que eu jamais saberia onde guardar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Louco amor

 Louco amor,
que me beijou a boca,
que me tirou a roupa,
que tirou todas as minhas armaduras
e me deixou nua,
nua com meu amor.

Louco amor,
que me deixou exposta,
frágil e sem controle,
que me deixou à brasa,
sem pele,
sem máscaras,
sem capas.

Louco amor,
que arrancou do meu peito
o coração vadio,
há tanto tempo sem dono,
há tanto tempo vazio.

E  justamente por isso,
por desaprender a amar e a doer,
justamente por isso,
ele doeu mais,
ele doeu muito mais,
quando perdeu você.