quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sincronicidade


6h30, o despertador avisava que o dia dela começaria. Levantou sonolenta, entrou no chuveiro e deu inicio ao seu ritual matinal sagrado. Corria pela casa de forma a otimizar o seu tempo, ao passo que no mesmo instante em que se vestia, arrumava a bolsa, escovava os dentes e preparava o café. Ela fazia isso religiosamente, todos os dias, a fim de chegar em seu trabalho com uma folga de horário.

6h30, ele estava atrasado, mais do que atrasado, deveria ter acordado à 1h atrás. Deu um pulo da cama meio atordoado, correu pra o banheiro tropeçando nos móveis, tomou um banho de dois minutos, comeu um pedaço de pão com café gelado e saiu quase correndo, ainda abotoando a camisa.

6h45, não bastava estar atrasado, ainda precisou encarar a chuva. Todo molhado, corria pela rua pensando: "Hoje não é meu dia, hoje não é meu dia". Parecia até brincadeira, mas só no meio do caminho percebeu que tinha esquecido um documento, o único que ele não poderia ter esquecido. Voltou correndo mais rápido ainda, xingando todos os palavrões que conhecia, pegou o documento e repetiu aquele percurso ainda mais afoito.

6h50, ela caminhava lentamente pelos quarteirões da sua rua, cumprimentava os vizinhos, contemplava a paisagem e o dia. O céu estava meio nublado, já devia está chovendo do outro lado da cidade. As nuvens avisavam que em poucos minutos começaria a chover ali também, mas estava tranquila, afinal como era sempre prevenida, tinha um guarda-chuva a tiracolo. Andou um pouco, ajudou uma senhora que cruzou o seu caminho que tinha dificuldades em localizar um endereço, parou mais um pouco, dessa vez para admirar a vitrine de uma loja de roupas, e seguiu seu caminho, sem pressa.

7h00, chegou na estação de trem, ainda tinha tempo, o trem só sairia da estação às 7h20, resolveu sentar num assento do vagão, folear um jornal antigo e esperar.

7h19, ele chega afoito e esbaforido na estação, já tinha perdido o primeiro trem, não poderia perder o segundo que já estava saindo, correu e por muito pouco conseguiu entrar no trem, sentou no primeiro lugar que viu disponivel, só pensava que precisava se ajeitar, arrumar a roupa e os cabelos encharcados e tentar salvar o dia, que já tinha começado mal.

7h20, eis o encontro, ou melhor, o reencontro. Ele sentou, e subitamente ela levantou as vistas por cima do jornal, ao mesmo instante que encontraram com as dele. Numa mistura de surpresa, alegria e espanto, os dois, quase que ao mesmo tempo se dirigiram um ao outro: "Você?"

Riram juntos daquela situação embaraçosa, depois de 5 anos eles se reencontravam ali, num vagão de trem, assim ao acaso (ou não). O fato é que um conjunto de circunstâncias, da vida dele e da vida dela, proporcionaram que eles se encontrassem naquele exato momento. Se ele não tivesse se atrasado, se ela não tivesse andado calmamente, se ele não tivesse voltado em casa, se ela não tivesse olhado a vitrine, muito provavelmente eles não se encontrariam ali.

Possivelmente eles não se deram conta, dessas jogadas que a vida faz, dessa tal sincronicidade que faz com que determinadas coisas aconteçam em momentos tão exatos, onde um segundo sequer, para mais ou para menos, tem o poder de modificar toda história. O que aconteceu depois, não importa muito, o importante é que o destino ou o acaso, esquematizou aquele encontro, de antigos namorados que se perderam com o tempo e com a imaturidade, mas que agora 5 anos depois, num vagão de trem, se reencontram e modificam um ao outro, porque era assim que tinha que ser.


Baseado em:


*Filmes:

Ironias do Amor
Tudo pode dar certo


**Clipe da música : Bad Day - Daniel Powter


Um comentário:

  1. Mesmo não sendo real, mesmo sendo só empolgação de momento, ou mesmo sendo mais um "parto" da sua mente, continuo me vendo em várias linhas dos seus textos!
    BEIJO

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