sábado, 21 de maio de 2011

Loucura cotidiana

Quer saber o que é loucura? Pergunte aos "loucos". Bem diferente do que estão nos manuais, nos livros de psiquiatria ou nas definições mais cotidianas, eles me explicaram o que é de fato loucura e eu descobri que eu faço parte do grupo dos loucos da pior espécie...
Loucura eles me disseram: - É não viver, é não sorrir, é brigar por qualquer coisa e descontar nas pessoas seus problemas. Loucura é fazer do dinheiro, do sucesso e dos objetivos materiais o sentido da vida. Loucura é se afastar cada vez mais da sua condição humana e viver e brigar por um mundo de idéias, criado, construído, arbitrário. Loucura é nossa ansiedade por se enquadrar, por ser normal, por ser padrão. Eu sou louca porque eu não sou livre, eu obedeço todas as regras, eu me importo com o que os outros pensam sobre mim. Eu sou louca porque eu me alieno no sistema, porque eu compro o que eu não preciso, porque eu maltrato meu corpo e reprimo meus desejos. Isso é loucura, isso é insanidade. Talvez, eu que precisasse de tratamento e não eles. Eles são livres, ousam, criam e possuem realidades próprias. Inconscientes a céu aberto.
Eu vivo numa sociedade louca e suicida, eu vivo numa sociedade irracional. Eu vivo em uma sociedade que clama por vingança e se diverte as custas do sofrimento alheio. Eu vivo numa sociedade que destrói seu ambiente, que faz das crianças máquinas de consumo, eu vivo numa sociedade racista, homofóbica, intolerante, machista. E quando eu olho os olhos fixos de um psicótico grave, quando eu não consigo segurar o olhar, por fraqueza, olhando os olhos fixos dele. Ai eu tenho certeza: A louca aqui sou eu.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cheguei de mansinho, como quem pede cafuné, carinho.
Ô carência!
Mas era tão raro, essa rotina maluca desacostuma a felicidade gratuita.
Café quentinho,
Meia no pé, frio.
Interior lá longe...
Terra molhada, chuva no telhado.
Cobertor.
Colo de vó, benção de avô.
Amor de familia, doce de leite, cachecol de crochê.
Simples como ir a todos lugares de bicicleta.
Simples como amar sem esperar nada.
Simples como esperar ansiosamente para ler mais um pouco de um livro...
A tecnologia foi proibida de entrar aqui.
Aqui, onde as relações são humanas e reais.
Refúgio do meu gosto,
cavalo, vida, campo, verde.
Águas doces de Oxum e terra dos elementais.
Ô meu mundo perfeito, intocável, paralelo, verdadeiro.
Não quero voltar, não quero voltar para a busca do sucesso,
para a falta de tempo.
Quero ficar aqui, anônima, amada, mimada e inteira.

sábado, 7 de maio de 2011

Sobre esquecer...

Depois de quase uma semana de dor aguda, de chorar todas as lágrimas da humanidade, eu só queria esquecer tudo que aconteceu. Deletar o tempo, apagar com uma borracha os últimos acontecimentos e no lugar de um coração partido, ter um coração tranquilo e sereno como estava antes de você ter transformado minha vida amorosa numa roda gigante.

Quem nunca quis sumir por uns dias, esquecer tudo, apagar da memória? Pois então, acho que desejei tanto que um aparente milagre chegou e bateu em minha porta. Recebi um presente anônimo, uma caixa de papelão azul, que continha um bilhete simples e direito com os dizeres: "Você tem 24h pra se despedir dessas memórias que tanto te doem, amanhã quando você acordar, você não vai mais sofrer nem chorar, você vai esquecer". Acabei me entusiasmando com a possibilidade disso ser real, parecia enredo de filme, de livro, seilá, e com um misto de excitação, curiosidade e desejo de esquecer toda essa dor, eu abri a caixa sem pensar duas vezes.

Dentro dela havia um frasco, com alguma substância qualquer que seria responsável por essa formatação da memória recente. Bebi aquilo como quem bebe água e mentalizei com fé que no dia seguinte eu estaria totalmente recuperada. Não sei que tipo de droga era aquela, mas deu um efeito alucinante em mim, pensei que fosse morrer de overdose e que aquele presente era uma tentativa de envenenamento que a minha ingenuidade não maldou. Porém, logo em seguida as cenas começaram a surgir na minha cabeça, o que foi torturante, porque além de vê-las eu revivia todas as emoções relacionadas a elas.

Pensei que o remédio estaria funcionando e que de fato eu tinha 24h pra revê-las pela última vez. Voltei a acreditar nos benefícios disso para minha felicidade, já que nos últimos sete dias eu só sabia sofrer. Bom, nas primeiras 7 horas, assisti as cenas de sua indiferença, do seu afastamento, da sua esquiva, da sua falta de consideração, da sua falta de tato. Vi a gente brigando, vi você mentindo, vi você inventando desculpas, vi o quanto estávamos tristes, ansiosos e estressados. Eu me vi sofrendo por sua causa depois que a gente terminou, vi e revi a nossa última briga. Confesso que essa sessão foi massacrante e que reviver todos aqueles momentos me deixava pior do que eu estava. Eu só pedia que o remédio fizesse efeito logo pra eu esquecer aquilo, mas ainda faltava um bom tempo.

Depois dessas cenas mais duras, do nosso término e do sofrimento pós-término, vieram as cenas que antecederam o nosso colapso. Cenas de ciúmes, de cobrança, momentos de saudade, discordâncias pequenas sobre teorias, filmes e coisas triviais. Coisas pequenas, comuns em todos os relacionamentos... Confesso que foi mais leve, mas não fazia questão de lembrar mais daquilo não.

Bom, agora já tinha 12h de efeito, estava na metade... Já que teria um intensivo cinematográfico sobre a nossa relação, resolvi ir para um lugar mais confortável, preparar um café e coisa e tal. Foi quando deu inicio a parte boa da nossa história, mas que trouxe a melancolia de volta. Comecei a escutar todas as nossas músicas, a lembrar dos lugares que fomos juntos, dos filmes que assistimos, lembrei as coisas que tanto nos marcaram: Aquela banda especifica, a piada que marcou, o livro que a gente trocou, o dia que a gente se conheceu. O enredo do filme que a gente fez junto, as situações mais inusitadas e improváveis que aconteceram...

Lógico que chorei de saudade de ver esses elementos desfilando na minha cabeça, elementos tão pareados com nossa história. Claro que também ri várias vezes, principalmente quando assistia a gente rindo de pessoas, de coisas, quando via nas cenas nossas coincidências... O remédio tá fazendo efeito, amanhã isso acabou. Eu pensava: Poxa, é triste que eu esqueça, mas é melhor não lembrar né? Imagine toda vez que escutar essa música se eu ficar lembrando dele? Não, não... Apaga, apaga.

Pelos meus cálculos a essa altura faltava mais ou menos umas 8h pra que meu HD tivesse zerado. Devido a isso, as memórias positivas começaram a se intensificar à medida que o tempo ia passando. Lembrei todas as sensações físicas, dos beijos, abraços, das transas, do cafuné no cabelo, do frio na barriga quando você me olhava daquele jeito, das massagens, lembrei da mordida na orelha, no pescoço, lembrei do arrepio, da saliva, do cheiro, da quentura do seu corpo, do lábio, das suas mãos, dos seus pés esquentando os meus. Fui assistindo e sentindo, assistindo e sentindo...

As horas passavam, faltavam agora 5h de filme e fui vendo como meu sentimento foi se formando. Lembrei da incredibilidade que dava a você no inicio, do medo de me apegar pela iminência de sua partida, e fui lembrando como eu me apaixonei por você. Vi, vivi e senti essa paixão me sufocando de novo, vi o quanto amava seu sorriso e o seu jeito de demonstrar sentimento, vi todas as cenas em que o mundo parava e que só existia nós dois. Vi o quanto me acostumei com seus traços, com seu corpo, com sua voz, com nosso jeito.

O tempo passava e fui ficando angustiada, não queria mais que o tempo passasse, não queria mais que chegasse às 24h, não queria mais esquecer... Como se para isso? Não quero mais esquecer essas lembranças. Não quero acordar amanhã como se nada tivesse acontecido. Não quero perder da memória esse amor todo que senti por você. Não quero! Não quero! O tempo agora corre mais do que nunca, só faltam 2h... Bate o desespero, o “presente” que ganhei de poder te esquecer virou um grande pesadelo. Deve ter um jeito de cortar esse efeito...

No auge do meu desespero, tentei te ligar, você não atendeu. Sai parecendo uma louca pela rua, como naqueles filmes que um minuto é vital. Era assim que me sentia, você estava saindo de mim, suas lembranças estavam sendo esquecidas, precisava te ver, precisava me despedir. Corri, corri até que cheguei em sua casa. Você atendeu a porta, com um ar de quem não tá entendendo a minha euforia e muito menos a minha presença. Minha cabeça pulsava com imagens nossas, com frases suas, com nossas brigas e nossos planos. Faltava só 1h, e eu estava totalmente arrependida de ter tomado aquela droga maluca. Eu só conseguia soluçar na sua frente te deixando atordoado e confuso diante de toda aquela loucura.

Mais calma, tentei te explicar um pouco os fatos, sabendo que você ia rir ou achar que eu estava surtando... No entanto, eu não tinha nada a perder, amanhã eu não lembraria mais de você e eu precisava me despedir. Por alguns minutos eu disparei uma declaração de amor que eu nunca pensei ser capaz de fazer pra alguém e pelo final do tempo que me restava a gente se amou intensamente como se fosse mesmo a última vez. Era como se a morte estivesse na porta, era como se o mundo fosse acabar em 20 minutos...

Bom, a parte louca de tudo isso é que acordei no seu lado no dia seguinte e lembrava exatamente de tudo que tinha acontecido. Ou seja, o tal remédio era uma fraude. As peças foram se encaixando e eu vi que o trote de alguém, tinha funcionado como efeito placebo em mim, fazendo eu rever todas as cenas que eu falei tanto que queria apagar. Mas, ironicamente, este trote me deu uma lição, daquelas que a gente leva pra toda vida.

Por mais que esteja doendo, por mais que pareça que nunca vai passar, por mais que seja insuportável conviver com essas lembranças, apagá-las sempre será uma tolice. Apagá-las é apagar junto o quão feliz eu fui, é apagar junto tudo que eu aprendi e cresci nessa história. É apagar junto, uma parte de mim mesma. Esse trote, de alguém que eu nunca vou saber quem, foi um marco na minha vida. Agora, eu continuo triste, sim, afinal as coisas acabaram... Mas não quero esquecer nem um segundo e nem mudar nenhuma vírgula de tudo que eu vivi, fiz, senti e passei... Isso eu faço questão de levar comigo, principalmente depois que tudo chega ao fim.