quinta-feira, 29 de março de 2012

"Morte, que talvez seja o segredo desta vida"

Cada dia que passa fico mais certa que o sentido da vida é a própria morte. Não caminhamos para este momento, que alguns consideram definitivo, outros apenas passagem, de forma isenta. A vida consiste em morrer. Morremos todos os dias, matamos a criança que fomos, o adolescente, o adulto. Vão morrendo células, os cabelos caem mortos, a pele também. 

Morremos subjetivamente desde que nos inserimos no meio. A primeira castração simbólica, o primeiro dente que fere a gengiva e depois cai. Depois vem os amigos, perdemos amigos ao longo da vida. Ao longo das turmas no colégio, ao longo das férias de verão. Dói a morte de amigos, tanto a morte ''definitiva'' do corpo, quanto a morte da pessoa que ele foi, que te encontra 10 anos depois em um café como se fosse outra pessoa, e é. Dói, mas a gente supera. Superamos fins de relacionamentos. Superamos amores não correspondidos. Superamos aquele dia que descobrimos que nosso amor platônico preferia mesmo a nossa amiga. Superamos os motivos pelos quais já choramos no banheiro. Será que superamos?

Mas enfim, não é um texto sobre traumas e superação. É um texto sobre morte. Morremos sim, todos os dias, nada é para sempre e tudo acaba. Porque também não somos para sempre. Mudamos e mudamos muito. Talvez quando dizemos "Te amo para sempre" deveríamos dizer "Enquanto eu for assim, eu te amarei para sempre", o que não deixa de ser uma verdade. Quando você olha para trás, o seu passado tá fixo, parado naquele tempo. Se você acessá-lo, você vai revivê-lo ali. Ele está eternizado em 2000, 2007, 1996. O amor que foi vivido está preso ali e segue ali, junto com quem você era, eterno.

Seguimos descascando nessa estrada de mortes que é a vida. Seguimos aprendendo a morrer. Perdemos pessoas, objetos, segredos, sentimentos, hábitos para aprendermos a perder a nós mesmos, por completo. Para quem sabe, aproveitarmos toda vida dentro de tanta morte. E suspirar pela última vez, podendo finalmente descansar de tanta incerteza. 

domingo, 25 de março de 2012

Agora você dorme,
no ar frio que predomina em seu quarto.
E eu estou agora
sem sono,
te olhando.

Te fazendo perguntas irrespondíveis
com uma leve angústia que não sai de dentro de mim.
Você dorme com tanta paz,
eu te invejo por isso.

Será que o seu sentimento por mim também dorme?
Será que está sonhando comigo agora?

Deito para o outro lado,
retorno,
te faço carinho.
Meu corpo está incomodado
com a tranquilidade e profundidade do seu sono.

Eu que tenho andando tanto em busca de mim.
Você que parece se encontrar tão facilmente,
dormindo e sorrindo.

Eu sei que é egoísmo pensar assim,
mas é que eu tenho tanto medo disso se esvair,
como tantos outros que se foram.
Eu tenho tanto medo de você ir embora.

Ô meu garoto,
você que me sorri com esse olhar silencioso.
Você que me acaricia sutilmente,
como se fosse discreto o gostar.

Ô meu amigo,
você que esteve comigo todos estes anos,
e não foi capaz de reparar
o meu coração ansioso
pelos nossos encontros.

Não foi capaz de reparar
que era sobre você
todas as dores que chorava.

Ô minha vida,
neste mundo tão cruel e traiçoeiro
temos direito a uma trégua.
Eu não quero deixar de gostar de você.
É bem melhor do que o mundo real.

Bom dia!
Já é manhã aqui no ocidente,
onde o sol se põe por último.
Antes e depois,
é só uma questão de ponto de partida.

Estou aqui do outro lado do mundo,
outro lado é só uma questão de posição.
No meu sonho não há fronteiras.
Tudo é mundo.
Tudo sou eu,
também.

O pensamento voa leve,
são as asas que o meu corpo não sustenta.
Acho, penso, sei
sinto
tudo e nada
em preto e branco.

O cheiro da distância
em sua camisa de manga longa,
faz frio aqui nesse quarto iluminado.
De todos os lugares possíveis que há neste mundo
O mais impossível, agora, é estar com você.