Você, eu e um silêncio ensurdecedor, naquela noite que parecia não ter mais fim. Eu de cabeça baixa, sem coragem de encarar seus olhos e sem coerência alguma para elaborar uma frase com sentido, permaneci impassível diante da ansiedade com que você indagava seu relógio de cinco em cinco minutos.
- Preciso ir embora. - Disparou interrompendo a mudez sufocante daquele momento.
Foi a primeira vez que eu olhei o seu rosto aquela noite. Acompanhei você levantando do banco com movimentos comedidos, afastando-se de mim, e como num ímpeto, num impulso daqueles que parece que o corpo pensa antes da razão, segurei seu braço e pedi que você ficasse mais um pouco.
- Senta aí, eu preciso lhe confessar algumas coisas...
Lembro como se fosse hoje, a sua cara de espanto. Afinal, você nunca tinha me ouvido falar com tanta firmeza; eu nunca havia pedido um minuto se quer, a mais do que você estava disposto a me dar, era a primeira vez que te impedia de ir. Respirei fundo e sem pensar nas consequências, comecei a falar, afinal se fosse pra ir embora que fosse sabendo de tudo.
- Antes de tudo quero que você saiba, que ficar com você foi resultado de uma aposta que eu fiz num bar com uns amigos, na qual o preço a ser pago, caso eu perdesse, era o de ficar com quem eles escolhessem. É, acho que seria redundante dizer que eu perdi. Quando eu soube que você era o escolhido, eu ri bastante, achava que seria facílimo te conquistar e achava que você era tão bobo, que não representava ameaça alguma a meus sentimentos. Ah! E tem outra coisa, quando eu fiquei com você pela primeira vez, não gostei do seu beijo, mas não posso negar que sua envolvência, seu cheiro e seu corpo febril, me despertou curiosidade sobre você. Sabe, também quero te contar, que eu menti pra você diversas vezes, descaradamente e friamente, que eu já fingi sorriso, já fingi tristeza, e o pior, eu te trai. Sim, eu te trai. Não me olhe assim, trai e não me arrependo. Fiquei com seu melhor amigo naquela festa que você precisou ir embora mais cedo, lembra? E pior ainda, fiquei mais de uma vez, sai com ele, me diverti com ele, dormi com ele, enquanto desligava o celular pra não correr o risco de receber suas ligações. Na verdade, fiz tudo isso porque tava querendo fugir de você e fugir da prisão que eu estava me metendo, a prisão de me apaixonar por você. Eu não queria me apaixonar, eu fiz de tudo pra que isso não acontecesse, te evitei, me afastei, te trai, até disse a você que precisava de um tempo, você lembra? Pois é, sobre esse tempo, eu também preciso te confessar algumas coisas, depois que eu te dei as costas aquele dia, eu conheci o amargo que é a sensação de ter cometido o maior erro da vida, mas como minha mente pensa depois que meu corpo, minha primeira reação foi chorar compulsivamente. Pois é, eu chorei por você, e não foi uma vez só, eu chorei várias noites, tardes e dias seguidos por você, eu não sabia se tava chorando por sentir sua falta, ou se tava chorando por me ver naquela situação ridicula, mas eu chorei, eu me abati, eu não estudei, eu não dormi, eu não comi, eu só queria você, eu só pensava e falava de você, logo você, o amor que eu tanto reneguei. Porém, meu orgulho não permitiu te contar isso, mas vou te confessar, aquele reencontro por acaso, de acaso não teve absolutamente nada, eu já sabia que você estaria ali e fui propositalmente para me mostrar a você. Quero confessar, que assim que te vi quase pulei em seu pescoço e me declarei, mas como sou idiota me fiz de dificil, acho que funcionou, afinal nós voltamos...Pois então, tenho mais outra coisa a dizer... Desde que voltamos, sem você saber, eu fiz tudo pra ser boa suficiente pra você. Eu li todos aqueles livros chatos, eu vi todos seus filmes preferidos, escutei todas as músicas que você adorava, suportei seus amigos e ensaiei frases inteligentes pra te surpreender, é, não se espante, eu, logo eu, tão arrogante e vaidosa, fiz tudo isso por você. Sabe, eu entendo que você me odeie depois de tudo isso que te falei, e eu vou entender também se você não quiser nem falar mais comigo. Mas, a pior de todas as minhas confissões vem agora. É a pior porque eu não poderia ser mais sacana com você te dizendo isso num momento como esse, no momento em que você, que sempre zelou tanto por mim, me deixa por ter perdido a paciência com minha indiferença. Você vai me odiar, eu sei, afinal eu esperei seu sentimento acabar pra te contar isso, a minha última confissão...
Nesse momento, meus olhos já estavam cheios de lágrimas. Minhas mãos trêmulas pareciam afetar seu semblante, que deram lugar a uma expressão preocupada. Me calei, para conter a emoção que tava sendo transbordar em sua frente, procurei ar, como se quisesse recuperar a coragem de confessar o que faltava e voltei a falar.
-Pois então, minha última confissão é que eu te amei todos aqueles dias e continuo te amando agora. Foi AMOR, amor mesmo, daqueles que a gente conta nos dedos quando envelhece. Essa é a última coisa que eu queria te confessar, a coisa que te deixaria o homem mais feliz do mundo se eu dissesse a 1 mês atrás, mas que agora eu sei que vai te causar sofrimento. Me desculpe! Mas é isso, eu te amo.
O silêncio voltou a reinar, era um silêncio diferente, era quase um estado de choque pra você e uma sensação de desmoronamento pra mim, tinha me aberto por inteira, sem segredos, sem poses, sem farsas, me esparramei no chão. Abaixei meus olhos de novo e me surpreendi quando senti que você se aproximava de mim, fui deixando sentir sua presença, deu pra escutar que você também chorava, nunca tinha te visto chorar. Você passou a mão levemente em meu cabelo, levantou meu rosto, olhou bem fundo dos meus olhos, acariciou meu rosto lentamente, me deu um beijo na boca, um beijo devagar, como se estivesse se despedindo de cada gosto, de cada espaço, daquela boca que era tão sua, e me abraçou.
- Eu também te amo. - Falou calmamente, com a mesma ternura de sempre.
Meu coração disparou, quase achei que aquilo era um perdão, quase me animei. Até que você interrompeu meus pensamentos e continuou a falar olhando em meus olhos.
- Mas... Nosso relacionamento acabou! Eu vou embora agora, vou levantar e vou sair da sua vida. Só peço que você se cuide, que tenha juízo e que não seja mais tão idiota, de achar que vai se proteger evitando demonstrar seus sentimentos.
Dizendo isso, você levantou, me deu um beijo na testa, virou as costas e sumiu no breu daquela noite que não passava, e me deixou ali, sozinha, ferida e com uma quantidade imensa de amor que eu jamais saberia onde guardar.
Esse amor que derrama, escorre, transborda e derrepente agente não sabe o que fazer. Essa angustia de não ver mais chão, de não ter mais ar... Essa infelicidade de acordar a cada cinco minutos desse pesadelo e ver que é real.
ResponderExcluirlindo, lindo lindo! AMO TUDO ISSO
:D
ResponderExcluirSó pra constar, esse texto NÃO é autobiográfico! hahaha
Não se preocupe, qualquer coisa que sai de sua mente real ou irreal, eu me delicio lendo! E uma amiga da faculdade também :)
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