domingo, 25 de julho de 2010

Quinze anos outra vez...


Há quatro anos atrás aquele lugar era dela, muito tempo havia passado desde que ela tinha 15 anos até aquela noite, passou tão rápido, mas muita coisa havia mudado. Ela, por exemplo, nem de longe é a mesma menininha de quatro anos atrás.

- Uma roska, por favor? Avisava que começaria a se divertir naquele momento.
Desfilando pela festa, observava cada canto daquele espaço, a decoração, as cores e os adolescentes, que representavam um pouco do que ela era no passado, as suas expectativas, a descoberta tão pré-adolescente do sexo, da bebida e do namoro. Achava graça do tempo, das mudanças e da ironia que era observar os meninos ali presentes, como os outros a observavam quando mais nova.

Agora ela já estava na terceira roska, “Com mais vodka, viu moço?” E à medida que o álcool começava a fazer efeito sobre o seu corpo, ela deixava de ser apenas observadora do seu passado longínquo e se tornava atuante naquele espaço, como forma de reviver algo que já passou. Fez amizades com os colegas da aniversariante de 15/16 anos, pediu um Whisky com gelo e foi dançar.

Dançava e bebia, sem pensar em nada, sem ver ninguém, era só ela e as luzes, que a deixavam cada vez mais bêbada. Sua idade? 15 anos de novo. Conseguia resgatar os velhos sentimentos ao ver aquelas meninas, tão novinhas, mas tão cheias de vontade de serem adultas. E ela só queria dizer, como já ouviu tanto de outras pessoas mais velhas: - Meninas aproveitem essa fase.

Um Martini com gelo agora, e ela já não estava mais em seu estado normal. Resolveu sentar para ver se amenizava a tontura. Descalça, quase que sem maquiagem, cabelos molhados de suor, sentou-se num banco afastado da pista de dança e começou a apurar sua observação. Para cada gole de Martini, ela misturava mais o que via com o que já tinha vivido. Via casais se beijando, meninas dançando como se o mundo fosse acabar, via a felicidade da aniversariante, quinze anos, de menina à mulher. Via luzes, muitas luzes e sentia seus reflexos cada vez mais comprometidos. O riso frouxo, agora, dava lugar à nostalgia que aquela festa simbolizava.

Mais Martini, por favor?! E ela se transportou. Ano? Entre 2005 e 2006.
Sua primeira lembrança foi de uma festa parecida com aquela, conseguia ver seus velhos amigos e ela com 15 anos, flashes de antigas amigas, de antigas fofocas da turma e de como os meninos eram infantis. Em seguida, lembrou de outro aniversário e voltou a uma das cenas mais marcantes de sua vida, um beijo descompromissado, que resultou num dos seus maiores amores, o seu primeiro amor. O local era bem familiar, e a riqueza de detalhes que lembrava fazia com que ela revivesse aquele momento quase que com perfeição. Ela estava no celular, afastada do restante do grupo sentada num muro baixo, chateada com ele, mas bancando a orgulhosa. Lógico! Ela que não iria atrás. Ele se aproximou, com o mesmo ar descompromissado e um copo de vodka pura na mão, como se quisesse mostrar pra os outros o quão homem era. Duas crianças é o que eles eram na verdade. De frente pra ela, ele olhava seus olhos sem dizer uma palavra, ela meio fria e com um pouco de raiva, tentava disfarçar o quanto aquele olhar amolecia seu coração. Era impossível sentir raiva dele, daquela lábia encantadora, daquele carinho que ele tinha com todas as meninas do universo. Não se lembrava ao certo como ocorreu o beijo, quem tomou a iniciativa, essas coisas. Afinal, era pedir demais de alguém que estava sentada num banco, bêbada, numa festa de quinze anos, quatro anos depois. Porém, lembrava do que tinha sentido naquele dia, sentia que já era tarde demais, que já estava completamente apaixonada por ele apesar dele não querer nada além de um beijo esporádico dela. No entanto, o corpo dos dois já sinalizava que aquilo não acabaria ali, tinha muita química, tinha encaixe. O beijo parecia ter sido ensaiado de tão sincronizado, o cheiro, o gosto, o calor da pele... Nossa! Aquela noite havia sido inesquecível.

Voltou para sua realidade, observava os outros jovens na pista de dança e lembrava de suas histórias. Já estava tonta demais pra distinguir o que era passado e presente e um sentimento de saudade de quem era a tomou quase que depressivamente. Resolveu parar de beber, tomar um ar, ajeitar-se e voltar a seu mundo adulto, tão diferente e não menos interessante do que aquele mundo que ficou pra trás, junto com quem ela era há quatro anos. Foi recuperando-se aos poucos, despediu-se de cada elemento que a remetia ao passado, engoliu o nó na garganta que a nostalgia junto com a sensibilidade alcoólica queria transformar em lágrimas, levantou sentindo-se melhor e com passos mais seguros, tão seguros quanto ela era agora, cumprimentou as pessoas como se não tivesse tomado nenhum gole de álcool e atuou, digna de premiação, fazendo o papel da mulher adulta, inteligente e compromissada com o futuro, deixando pra trás temporariamente, aquela mocinha ingênua de quinze anos que insiste em persegui-la onde quer que ela vá.

3 comentários:

  1. Bravooo !!!
    Parece que em vários momentos de nossas vidas, vivemos quase que a mesma coisa.

    Beijo

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  2. Geente, que TUDO esse texto.
    E quem não lembra com saudades dessa época de descobertas e sem compromissos que atire a primeira pedra.
    Gostei de verdade, to seguindo aqui.
    ;*

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  3. Só as mulheres conseguem escrever com tanta sensibilidade assim.Por uns instantes, posso até (tentar) me transportar pra essa realidade misteriosa e atraente que vcs mulheres vivem. Muito bão esse texto! O mais interessante de tudo é perceber a capacidade que temos de compreender as diversar fases de nossas vidas de diferentes maneiras em diferentes momentos dela.

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