terça-feira, 23 de outubro de 2012

O indizível,
aquilo que se sente sem saber.
Aquilo que embola na garanta,
aperta o estômago,
aquilo que arrepia,
que dói  e chora,
dentro de mim.

Como um feto diante do novo mundo.
Prenderam meu viver
nas grades do verbo.
Nó atado e cego,
que nada alívia
a dor de existir.

Me leva para qualquer lugar,
só quero descansar,
Só quero contemplar teu sol interior,
Sou estrela que morre
e que sente falta do que não viveu.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A mulher do quadro

Ela levanta, o mar lhe espera: nua, leve. Talvez o amor esteja ao lado da cama. Talvez ela esteja mesmo sozinha. Nua em frente à janela de frente ao mar. Leve, livre, serena, eternizada em borrões de tintas claras. Presa em um quadro de tons azuis.

Será que ela existiu, enquanto o amor atrás dela pintava? Será que ele captou o sensível daquela linda mulher, nua, leve, vestindo o seu roupão em frente ao mar?

Com o olhar perdido, nublado, com o tocar sereno de quem pede um abraço, um beijo na nuca, um envolver-se em torno do teu ventre. Aquela mulher presa na parede é livre, aquela mulher nua em tintas e pincéis tem o mar só para si, eternamente. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dona Dodô

Ninguém sabia de onde ela veio ou sua história. Ninguém sabia quem ela era. Muitas fantasias e poucas verdades. Em um mundo que carece de mistérios, a invenção parece mais interessante. Dodô, era assim que a chamavam, morava em um velho prédio localizado no subúrbio mais abandonado da cidade. Um prédio caindo aos pedaços e com muitas escadas que energicamente ela subia e descia murmurando os seus delírios.

Cabelos grisalhos e longos apontavam uma vaidade desleixada. Suas mechas lisas e cinzas iam até a altura da cintura e me faziam pensar que ela era uma bruxa. Desde pequena, quando minha mãe me contava histórias que tinham bruxas, era o rosto de dona Dodô que eu via nestas personagens. Imaginava caldeirões e vassouras voadoras, gatos e poções espalhadas pela mesa da sala. Sentia medo, mas ao mesmo tempo grande interesse por aquela mulher. O tempo passou, ficaram para trás as histórias e os medos, no entanto, hoje tenho certeza: dona Dodô só pode ser uma bruxa.

A rotina de dona Dodô era simples, vivia sozinha com um gato preto, nunca recebia visitas e só saia de casa para fazer compras e dar o seu passeio solitário no final da tarde. Este passeio, que acontecia todos os dias religiosamente, me permitia observá-la melhor. Tinha a sensação de estar sendo invasiva por segui-la e ficar criando histórias para entendê-la. Mas, gostava desta sensação clandestina de ter um segredo que ninguém mais tinha.

Os seus passos eram leves, andava alienada do mundo, não via ninguém, não cumprimentava ninguém. Com certeza o seu mundo particular era muito mais interessante do que o dos outros vizinhos. Falava consigo mesma, em um idioma incompreensível, ria sozinha, reclamava sozinha, para todos era a louca do bairro, para mim o enigma da existência. Andava com roupas que me lembravam mulheres que frequentam igrejas evangélicas no domingo. Saias longas e blusas de manga. Será que Dodô era religiosa? Vai saber.
Um belo dia, eu reparei que ela estava usando uma aliança no dedo. Parecia estar feliz, prendeu os cabelos e saiu de casa mais cedo do que de costume. Cumprimentei-a como sempre e perguntei como quem esperava que ela me ignorasse: - Para onde vai assim tão bonita dona Dodô? Ela rispidamente respondeu-me: - Hoje é a minha lua-de-mel. E saiu flutuando pela rua.

Não resisti e a segui. Ela caminhava normalmente com uma felicidade que lhe era estranha. Parecia que tinha descoberto algo extraordinário. Para mim ela era a personificação do extraordinário, mas neste dia ela estava diferente. Não sei bem explicar. E aquela aliança, aquela história de lua-de-mel. Já ouvi muitos dos delírios de dona Dodô, suas viagens cósmicas, suas revelações apocalípticas, suas histórias sobre um tempo remoto em uma roça familiar, mas nunca tinha escutado na sobre casamento, amor e estas coisas que nos deixam andando abobalhados pela rua.

 No subúrbio há algumas praias, muito bonitas, mas pouco visitadas devido à distância ao centro da cidade. Dona Dodô, andava em direção à praia das loucas. Tinha esse nome, porque antigamente havia um hospício no terreno que hoje dá acesso a praia, e em algum dia algumas loucas fugiram para tomar banho de mar. De alguma forma, dona Dodô estava reproduzindo esta história, estava repetindo uma lenda. Dona Dodô sabia das coisas, ela era uma mulher sábia, eu tinha certeza.

Ela chegou à praia e ajoelhou-se em frente ao mar, rezou para algum ser do universo, em uma língua que eu não compreendia. Levantou e começou a despir-se sem pudor. Tirou primeiro a sua camisa de manga longa, exibindo seus seios grandes e enrugados e depois a saia que mostrava um corpo marcado pela velhice e pela solidão. Dodô deitou na areia molhada em frente ao mar, apertou os olhos e abriu as pernas, deixando a água penetrá-la. Pude ouvi-la gemer alto de prazer com a água tocando seu sexo. Dodô alucinava e sentia dentro dela a força do desejo do mar, como se fosse um homem. Como se fosse seu homem.

Dodô fez sexo com o mar, era a sua lua-de-mel.

Depois que presenciei aquilo, entendi porque Dodô era tão especial para mim, não necessitava de explicações ou histórias, ela era o que era e isto era atemporal. Louca ou não, bruxa ou não. Dodô era eu também, ela era a natureza e nada mais.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Carta para Clarice

Quando deixamos nossa marca em um texto, eternizamos a nossa alma, e dessa forma eu pude te conhecer. Nos encontramos, eu te encontrei, muitos anos depois do silêncio dos seus sentidos. No entanto, encontrei  você viva, com as inquietações mais pulsantes do que nunca. Comecei a beber da sua subjetividade bem depois de vomitar as minhas em linhas tortas. E foi um choque perceber que os desenhos das minhas letras vivas se pareciam os seus. A sua escrita fala pela minha e até o meu estilo de forma inexplicável, se parece com o seu. Mas como isso é possível, se só enxerguei tua força muito tempo depois de engatinhar na seara dos textos catárticos? Como esse encontro aconteceu com tanta afinidade e semelhança? Você é a mestra e eu humildemente ajoelho diante das suas escrituras. E de algum modo, mesmo sem conhecê-la acabo roubando sua obra sem saber que cometo um crime, sem saber sequer que tal obra existe e já possui dono. Assim como você, escrevo com o estômago, as vísceras, o útero. Escrevo com as entranhas os traços do cotidiano e talvez por isso, me identifique e te ame tanto, sem você sequer me conhecer.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Pouco importa os pensamentos quando estamos correndo, ventilando o corpo.
Queria ter um pulmão gigante para captar todo ar do mundo,
de peito aberto e corpo fechado,
forte.

Não é possível conviver com tantas dores,
tantos nós, tensões e mal-jeitos no corpo e na alma.
Quero suar esses medos
essa ansiedade.

Porque me ensinaram que devo correr contra o tempo?
Porque me disseram que tenho que ser tudo ao mesmo tempo?
Meu corpo não aguenta essa doença,
o louco mundo adulto que espere.

terça-feira, 17 de julho de 2012

nada como um banho,
sentir a água gelada percorrendo as costas
limpando a dor,
anestesiando os medos.

em épocas de baixa-estima,
inseguranças,
nada como um banho
para massagear a vida.

sábado, 14 de julho de 2012

arrepender-se

A razão não comanda a fraqueza,
o verbo do ódio, o vocábulo do desespero.
Quem de nós, reprimidos,
sabe o que é passear entre os extremos sem arder?

Quando a boca fala o que o impulso quer,
verdades, distorções e mentiras se confundem.
Quando a razão sucumbe ao incêndio da mente,
o orgulho dita as regras,
o amor pula o muro
e a sensatez adormece.

O pior é não é o ato, o ímpeto, a chama
ou as palavras malditas em direção as vidraças.
O pior é o depois,
o amanhã, a boca seca,
a ressaca moral,
o arrependimento.

Como depois usar a máscara que a impetuosidade tirou?

segunda-feira, 9 de julho de 2012

desconexo

É sobre a divisa mal explicada entre o presente e o passado, o limiar dos sonhos, fantasias e do possível. Gosto de pensar em mundos paralelos, já que a decodificação do que tá posto é pessoal e perceptiva. Mundos que convivem, que se entrelaçam, que divergem. Um conjunto de palavras soltas, vazias e sem sentido me definem hoje e o que eu contemplo me acalma e me sufoca, agora.

Estive um tempo longe dos cadernos, estava mais perto de mim mesma e dos textos impublicáveis que me compõe. Sempre fui o que quiseram que eu fosse, mas, de algum modo, algo em mim conseguiu fugir das regras impostas, meio que pelo buraco da fechadura, meio por de baixo da porta, há, e eu sei que há, um esconderijo em que a espontaneidade ainda mora. 

Um texto matutino e preguiçoso sou eu agora, postergando mais um compromisso, mais uma ordem, mais uma regra, nada espontâneo, nada da ordem do impulso. Criar um futuro improvável me salva do tédio do presente. Não, não é sobre tristeza, apatia e nada disso, é sobre o viver, seus recortes e descosturas. É sobre o afastamento necessário de algo que te impulsiona, apenas para olhar de longe, para amadurecer a ideia, para amortecer a crise.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Simples assim

Hoje eu não vou sair daqui. Hoje eu não vou fazer nada que eu não queira fazer. Não vou me entregar a roda-gigante dos meus iguais, homens sapos. Hoje eu vou passar a manhã inteira agarrada em seu abraço, sentindo o cheiro da sua alma, te amando, te amando devagar e eternamente. Hoje eu vou passar o dia inteiro de pijama, te olhando, me entregando devagar e eternamente. 

Quando sentirmos fome, faremos da cozinha o nosso laboratório de alquimia. Misturaremos ingredientes no nosso ritual mágico e depois sentados no chão sentiremos cada sabor percorrendo e arrepiando os nossos sentidos. Olhando um para o outro com a cumplicidade de quem divide um segredo, uma sensação, um amor.

Depois que tomarmos banho, cuidando de cada parte do nosso corpo, acarinhando e agradecendo a matéria que instrumentaliza a nossa existência, nos despediremos com saudade antecipada, com o ardor do sentimento vivo. Você vai embora e eu decidirei arrumar as coisas. O meu cantinho, o meu jeitinho. Quanta coisa acumulada, suja, empoeirada, fora do lugar. Minha mente estava assim, desorganizada, confusa. 

Arrumar as coisas dá a falsa sensação de que é possível arrumar a vida. Controlá-la, como este texto, cheio de eventos controlados. Hoje eu só farei aquilo que eu quiser fazer, hoje eu vou passar a manhã agarrada em seu abraço e só. O que tiver de acontecer depois, será espontâneo e verdadeiramente simples.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Ansiedade

''Eu gostaria que fosse diferente", tem sido a frase mais dita nos últimos tempos. A minha ansiedade não é só corporal, é verbal também. Mal da humanidade essa insatisfação contínua, que simula levar a algum lugar e não leva a nenhum. Estou ansiosa agora enquanto escrevo. Estou entediada com o tempo livre para fazer todas as coisas que planejei, mas sem conseguir fazer nada por completo. Vivo para fazer listas de organização, planejamentos, mas não faço nada. Começo um, largo no meio, me entedio fácil. Perco o interesse pelas coisas. Minha mente funciona numa velocidade infinita e permanecer no presente é a tarefa mais díficil. Vivo em busca de algo que não tenho e quando alcanço, mergulho pouco, logo arranjo outra coisa para desejar.  Nada tem me completado. Sinto saudades de viver de fato aquilo que eu faço, colhendo seus ganhos e danos, esquecendo o mundo lá fora. Estou tendo uma crise de pânico agora, meu coração está disparado. Quero ir embora daqui. Quero ir embora  de tudo. Não fico em nada, não paro em nada. Coisas que me pedem esforço, dedicação, coisas que exigem que eu pense muito, canse muito, me deixam exausta. Largo tudo pelo caminho e não estou conseguindo me encontrar neste olho do furacão. Quero largar esse texto pelo caminho agora por exemplo, estou cansada dele. Estou ficando louca, estou no ritmo do fracasso. Me arrependi de falar tanto que quero tudo, ao mesmo tempo e agora.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Oração

Oh pai, oh mãe terra, me abençoe. Permita que a energia do sol se transforme em fé pelo meu corpo. Que as minhas costas não sustentem mais o peso do hábito. Oh árvore da vida, me ensina a ter raízes profundas para sustentar o meu espirito flutuante, me ensina a respirar a vida que também corre no meu sangue. Sou feita daquilo que compõe o mundo. Sou feita de estrelas, lixo e gente. Sou feita, fui feita. Oh mãe que rege as águas fluídas e fortes, me explica a minha missão nisso tudo, pois meu corpo pede calma, alento. Meu corpo pede expressão.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Em um mundo monocromático uma aquarela reconhece a outra. Desde que vi os calos nos seus dedos avinhei com que você tanto trabalhava durante a noite. Reconheci nos seus olhos inflamados a angústia chorada e me entendi em você. Nenhum normal pode conhecer e muito menos entender o que se passa entre a gente, afinal tenho guardado em segredo todas as cartas de amor que os seus olhos escrevem para mim. No mundo das vitrines e dos corpos, consigo enxergar seu espirito se debatendo entre as paredes da matéria. Consigo perceber pela velocidade com que você respira, o seu abafamento, a sua prisão. Descobri você no acaso, primeiro os calos, depois os olhos, depois a respiração. Não demorou muito apareceram mais pistas e me perdi neste enamoramento. Eu te enxergo, você também me enxerga. Pluma perdida na fumaça, cinema mudo, pernas que caminham juntas sem se comunicar. Incompreendidos, isso que somos, ou pelo menos éramos. Eu compreendo você. A solidão já não me encontra, pois em algum borrão de tinta de um quadro qualquer, em uma melodia simples ou mesmo erudita, em alguma poesia ou uma história contada por um velho na praça eu estarei respirando você.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Transporte público

Em um momento contemplativo, enxergando beleza no escuro, me encantei com o aglomerado de faróis brancos e vermelhos nas pistas. Luz por todos os lados, tapete incandescente de mistério no solo duro da realidade. Algo natalino, uma piada do universo. Como um engarrafamento tão estressante poderia ter tamanha beleza para mim? Também há poesia no trânsito. A fantasia também é possível na cidade grande. 

quinta-feira, 29 de março de 2012

"Morte, que talvez seja o segredo desta vida"

Cada dia que passa fico mais certa que o sentido da vida é a própria morte. Não caminhamos para este momento, que alguns consideram definitivo, outros apenas passagem, de forma isenta. A vida consiste em morrer. Morremos todos os dias, matamos a criança que fomos, o adolescente, o adulto. Vão morrendo células, os cabelos caem mortos, a pele também. 

Morremos subjetivamente desde que nos inserimos no meio. A primeira castração simbólica, o primeiro dente que fere a gengiva e depois cai. Depois vem os amigos, perdemos amigos ao longo da vida. Ao longo das turmas no colégio, ao longo das férias de verão. Dói a morte de amigos, tanto a morte ''definitiva'' do corpo, quanto a morte da pessoa que ele foi, que te encontra 10 anos depois em um café como se fosse outra pessoa, e é. Dói, mas a gente supera. Superamos fins de relacionamentos. Superamos amores não correspondidos. Superamos aquele dia que descobrimos que nosso amor platônico preferia mesmo a nossa amiga. Superamos os motivos pelos quais já choramos no banheiro. Será que superamos?

Mas enfim, não é um texto sobre traumas e superação. É um texto sobre morte. Morremos sim, todos os dias, nada é para sempre e tudo acaba. Porque também não somos para sempre. Mudamos e mudamos muito. Talvez quando dizemos "Te amo para sempre" deveríamos dizer "Enquanto eu for assim, eu te amarei para sempre", o que não deixa de ser uma verdade. Quando você olha para trás, o seu passado tá fixo, parado naquele tempo. Se você acessá-lo, você vai revivê-lo ali. Ele está eternizado em 2000, 2007, 1996. O amor que foi vivido está preso ali e segue ali, junto com quem você era, eterno.

Seguimos descascando nessa estrada de mortes que é a vida. Seguimos aprendendo a morrer. Perdemos pessoas, objetos, segredos, sentimentos, hábitos para aprendermos a perder a nós mesmos, por completo. Para quem sabe, aproveitarmos toda vida dentro de tanta morte. E suspirar pela última vez, podendo finalmente descansar de tanta incerteza. 

domingo, 25 de março de 2012

Agora você dorme,
no ar frio que predomina em seu quarto.
E eu estou agora
sem sono,
te olhando.

Te fazendo perguntas irrespondíveis
com uma leve angústia que não sai de dentro de mim.
Você dorme com tanta paz,
eu te invejo por isso.

Será que o seu sentimento por mim também dorme?
Será que está sonhando comigo agora?

Deito para o outro lado,
retorno,
te faço carinho.
Meu corpo está incomodado
com a tranquilidade e profundidade do seu sono.

Eu que tenho andando tanto em busca de mim.
Você que parece se encontrar tão facilmente,
dormindo e sorrindo.

Eu sei que é egoísmo pensar assim,
mas é que eu tenho tanto medo disso se esvair,
como tantos outros que se foram.
Eu tenho tanto medo de você ir embora.

Ô meu garoto,
você que me sorri com esse olhar silencioso.
Você que me acaricia sutilmente,
como se fosse discreto o gostar.

Ô meu amigo,
você que esteve comigo todos estes anos,
e não foi capaz de reparar
o meu coração ansioso
pelos nossos encontros.

Não foi capaz de reparar
que era sobre você
todas as dores que chorava.

Ô minha vida,
neste mundo tão cruel e traiçoeiro
temos direito a uma trégua.
Eu não quero deixar de gostar de você.
É bem melhor do que o mundo real.

Bom dia!
Já é manhã aqui no ocidente,
onde o sol se põe por último.
Antes e depois,
é só uma questão de ponto de partida.

Estou aqui do outro lado do mundo,
outro lado é só uma questão de posição.
No meu sonho não há fronteiras.
Tudo é mundo.
Tudo sou eu,
também.

O pensamento voa leve,
são as asas que o meu corpo não sustenta.
Acho, penso, sei
sinto
tudo e nada
em preto e branco.

O cheiro da distância
em sua camisa de manga longa,
faz frio aqui nesse quarto iluminado.
De todos os lugares possíveis que há neste mundo
O mais impossível, agora, é estar com você.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ao meu redor

Esse texto nasce dos meus olhos cansados e da poluição sonora da cidade grande. Buzinas, intolerância e trânsito parado me levaram a mais doce das alienações: meu fone de ouvido e uma música aleatória. Estou cercada de burros seres humanos, caretas e paradoxais. Assistindo um sistema sucumbindo em sua própria desigualdade. São mentiras que nos aprisionam, rupturas necessárias para a liberdade. Liberdade que as pessoas acham que possuem, pura mentira! Sinto-me estranha ultimamente, com uma sensação de esconderijo, de estar fora do padrão. Será que o meu sofrimento não está notável? Porque as pessoas são tão preocupadas com a aparência? Porque elas são tão cruéis com o diferente? Cruzo com pessoas todos os dias, portas que se abrem e fecham, controladas. Muitas se perdem no hábito, muitas morrem na praia. Sonhos moldados, dedos e mais dedos na hora de escolher as palavras. Medo do outro, medo de si mesmo. Meu corpo é forte, minha mente inquieta, meu coração é do tamanho do mundo e a minha insegurança também. Não me sinto segura nessas ruas escuras, meus passos são ágeis e firmes, meus olhos atentos. Ando por caminhos que a minha intuição leva. Não me faça perguntas difíceis, não me coloque na parede, não me obrigue a ser cruelmente sincera. Minha coesão textual é confusa, minha angústia é da minha altura. Talvez o silêncio agora seja o melhor remédio.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Salvador, 11 de fevereiro de 2012.

Definitivamente fui fisgada, tive sorte e encontrei aquilo que parecia impossível: a peça do lego que se encaixa perfeitamente em mim. Simples, como uma melodia de uma nota só. Complexo, como a legião de fatores emaranhados que nos uniu. Você que sou eu; eu que sou você; dois em um único nós. Atesto que já não quero eu sem você, nem você sem mim. Case comigo!? Eu quero ser a mulher que vai te acordar todos os dias te pedindo abraço, pedindo pra você chegar para o canto, pedindo pra você acordar rápido e não se atrasar. Eu quero ser a mulher que vai dormir com a sua camisa preta com estampa de banda de rock e continuar sendo a mais linda do mundo pra você. Quando eu me perco te olhando, o meu desejo é que o tempo passe devagar. É uma tortura a forma como o tempo passa rápido quando o seu beijo arrepia a minha nuca e o seu corpo quente derrete o meu. Queria viver contemplando o seu sorriso, brincando com o seu nariz em formato de pipoca e beijando os seus olhinhos com cores de água de rio. Sabe, eu quero ganhar o mundo ao seu lado, dividindo o peso da minha mochila de 48 litros com você. Quero descobrir os vales mais lindos de mãos dadas, caminhando no seu passo e descobrindo o nosso ritmo. Quero morar com você em uma barraca de camping, acordar com o sol frio e receber o bom dia mais cheio de amor que pode existir. Quero o seu afeto para sempre! Meu amor, eu adoro ser parecida com você, adoro enxergar em você os meus defeitos. Adoro você e tudo que você faz, porque você é o homem mais encantador deste mundo. Adoro ser sua inspiração e seu escape, adoro seu colo, seu porto, adoro ser sua namorada pentelha. Sabe, eu sou completamente apaixonada pelo amor da gente.

Com amor, 

C. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A atmosfera atual tem tons de angústia e tensão. A vida está na corda bamba, a nossa falsa ideia de segurança está voltada para um espelho em pedaços, quebrado no chão, com as pontas para cima. Segurança cortante, estamos reféns de nós mesmos. Meu corpo é matéria do universo e vibra em confluência com a energia do mundo. Estou com a energia baixa, me sinto mal, descarregada, desestimulada. O mundo tem sido cada vez mais cruel e isso é apenas advertência na hora do jantar. Mariana, a sua ideia de mudar o mundo virou utopia imatura. Você que não cresceu com as árvores, você que permanece in Wonderland, de questionadora fantasia à comércio cinematográfico. Alice, Sofia, me perdoem, é que eu ando tão cansada para o conhecimento... O que eu queria mesmo era deitar numa pedra embaixo de uma cachoeira e ficar lá até o sentido perder o sentido, mente em branco, sem linguagem. A humanidade me dá apatia, paralisia, tá dando pane no meu sistema. Eu queria a liberdade que não é humana, que não é simbólica, eu que sou parte da natureza, não sinto natureza só porque eu sou capaz de pensar e falar sobre ela. Estou cansada desta hipocrisia, eu quero paz.