domingo, 8 de agosto de 2010

Feliz ano novo.


Mais uma virada de ano, ela estava encostada na varanda de frente pro mar do seu apartamento, vestida de branco, como mandava a tradição. A casa cheia de pessoas não muito significantes, colegas de trabalho, conhecidos, conveniências sociais. É! É o que ela pensava quando observava aquelas pessoas sorrindo superficialmente em seu sofá.

Era festa de Réveillon, se pudesse fazer um balanço desse ano que passou, com certeza teria mais desgraças do que momentos bons. Um relacionamento marcante destruído que gerou uma separação dolorosa, insatisfação no trabalho que tanto a consumia e não dava o retorno merecido. Tinha se afastado da família, afinal, a última vez que havia falado com seus pais foi no seu aniversário, há uns três meses, por telefone.

Enfim, o ano novo estava a alguns minutos daquele momento, e como todo ano novo, esperanças e sentimentos de renovação e mudança surgem quase como uma obrigação. Listas imensas de metas, de promessas, quase nunca cumpridas. Listas de afazeres, de mudanças, que vão sendo deixadas no fundo da agenda no decorrer do ano, são alguns dos exemplos do quanto à simbologia do “Novo ano” influencia nos ideais de recomeço de uma cultura. Porém, naquele momento aquilo tudo tinha outro significado para ela, que já não agüentava mais observar o tempo passar enquanto ficava inerte, a mercê das circunstâncias. Precisava fazer alguma coisa, mover-se, sair daquela maré de tristeza que ela estava submetida.

Indagava-se sobre suas questões, observando aquele horizonte negro com o barulho das ondas misturado com as vozes das pessoas, que já anunciavam a tão esperada contagem regressiva. Cinco... Quatro... Três... Dois... Um... Feliz 2010! Fogos de artifício agora iluminavam aquele horizonte, abraços, champagnes, brindes e uma felicidade típica que reina nas pessoas durante a virada, completavam aquele cenário, menos pra ela, que permanecia afastada, desligada de tudo aquilo, um comportamento atípico que possivelmente todos comentariam no escritório, afinal não se espera isso de uma anfitriã. Porém, desta vez não se tratava só de uma comemoração e sim de uma mudança, ela precisava mudar e queria começar naquele momento.

Deixou a festa continuar no seu apartamento. Pegou o carro, queria voar para o outro lado da cidade, pra casa dos seus pais. Provavelmente eles já estariam se preparando pra dormir, já não agüentavam mais o pique de uma festa de réveillon. Ela não queria perder mais nenhum segundo, bateu na porta e foi recebida com surpresa por aqueles que ela tanto amava, se sentiu em casa, como há tempos não se sentia. Não foi necessário explicações, nem justificativas, era como se eles soubessem o que ela precisava naquele momento. Colo, e só.

Agora em diante seria assim, ela não perderia mais isso. Perdoou-se, pediu perdão, decidiu que reformaria o apartamento, assinaria o divórcio, afinal, tinha o direito de amar novamente. Procuraria outro emprego ou faria aquele curso que ela tanto queria na sua área, se matricularia na Ioga, no francês e no curso de pintura. Adotaria um cachorro, cortaria as coisas inúteis da sua vida, doaria roupas e objetos velhos, modificaria sua alimentação, faria uma atividade física, começaria uma terapia, enfim, pensou em várias coisas que tinha deixado pra trás e se empolgou com seus novos planos. Queria crescer, fazer uma viagem, conhecer novos lugares, pessoas, culturas. E porque não? Ela só tinha 36 anos. Não precisava ser assim não triste.

Pensava tudo isso, deitada no colo da sua mãe que calmamente acariciava seus cabelos, naquele sofá que tanto tinha marcado sua infância, mas que naquele momento lhe dava a segurança e conforto necessários pra voltar a acreditar nela mesma e no seu novo ano.

- Feliz ano novo, mãe.
- Feliz ano novo, filha.

E dormiu sentindo-se tão, mais tão amada, como não se sentia desde muitos réveillons. Sentiu-se completa, sentiu-se feliz, pois agora tinha certeza de que às vezes, é preciso voltar pra casa para se encontrar.

4 comentários:

  1. É preciso voltar, independente de onde seja o lugar. Mas é preciso voltar sempre e relamnete, para buscar um "eu" que dexamos perder pelo camnho.

    Beijo

    ResponderExcluir
  2. Oi,sou amiga de Mariana e me chamo Mariana também rsrs
    Olha,tava lendo seus textos e fiquei muito impressionada,me identifiquei em muitos deles..na verdade acho que em cada um deles tem um pouco de mim,os sentimentos e pensamentos que acredito que todos possuem mas poucos conseguem transmitir e passar com essa leveza.Te confesso que deu até vontade de começar a escrever também rsrs
    um beijo...e ahhh,não pare de escrever não.POR FAVOR

    ResponderExcluir
  3. Rapaz, eu gosto de escrever e tenho amigos que também escrevem. Aí é aquela coisa: "olha aí, véi", "o que foi que vc achou?"... Algo que sempre conversamos é sobre a influência que nossos autores favoritos têm sobre nós. Por mais que aquele cara tente ser "autêntico", é impossível não ver traços de um o de outro alguém em sua escrita. E isso é muito massa! Conheço esse blog há menos de uma semana é já li quase todos os posts. Camilla é demais, véi! Não dá pra não lembrar dos contos de Clarisse Lispector quando leio seus textos... Você lê Clarisse, Camilla?

    ResponderExcluir
  4. Primeiramente quero agradecer a vocês os elogios. Como já comentei aqui é bom saber que o que penso, sinto e escrevo atingi e toca alguém. Bom, tentarei não parar de escrever em meio a essa correria da faculdade. E sobre os autores, concordo plenamente, a gente acaba se inspirando bastante neles para criar o nosso estilo de escrita. Sim eu adoro Clarice, Martha Medeiros, Caio Fernando Abreu, Jorge Amado e mais outros que com certeza me tendenciaram muito nas minhas preferências .

    Obrigada de novo :*

    ResponderExcluir