domingo, 16 de janeiro de 2011

Escorpiana

Chegou e roubou minha atenção. Praia cheia, calor equatorial e um verdadeiro paraíso aos nossos pés. Chegou sozinha, independente, com ar de quem não precisa de ninguém. Estendeu sua canga vermelha, da cor dos seus cabelos. Ruivos, mas não naturais. Cabelo de personalidade de fogo.
Tinha um piercing no nariz e uma tatuagem no quadril, cujo desenho não consegui identificar. Quem é essa mulher?
Tirou a roupa, com a indecência de quem tem a praia só pra si. Ninguém a via, apenas eu. Deu um mergulho no mar. Livre. Sozinha. Era auto-suficiente. Ela voltou como num desfile, assumindo o seu posto e deitando em sua canga vermelha. Acendeu um cigarro e deu a cartada final: Abriu uma revista barata de horóscopo.
Rá, eu sabia! Nessa hora, confesso, não contive o sorriso. Eu sabia que essa mulher, cujos cabelos escondem mistérios e cujas marcas revelam histórias, essa mulher que me chamou tanta atenção, era apenas uma mulher.
Com uma personalidade que transborda além das tintas que cobrem o seu corpo, ela vai sozinha na praia dar um mergulho, fumar um cigarro e ler suas previsões para 2011.
Ah, eu aposto que ela é escorpiana...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Catarse

O momento é perfeito.
Papel e caneta, caso antigo.
Sabe a hora do dia que eu mais gosto?
A hora do crepúsculo.
Nem tarde, nem noite.
Gosto do marasmo desse horário...
Tons de laranja se ajustando com tons de azul no céu.
Me equilibra.
Onde quer que eu esteja, eu gosto desse tempo.
Pode ser da janela do meu apartamento, vendo as luzes da cidade acenderem progressivamente.
Ou melhor, pode ser da areia da praia, contemplando a imponência com que as ondas do mar cumprem sua rotina.
Gosto desse intervalo de tempo.
É como estar apaixonada.
É como ter vontade de passar um dia inteiro deitada numa cama olhando para alguém.
Ainda não sei o que isso significa...
Mas, esse vento entre a gente e essa sua forma de me olhar, me embebeda.
É, aconteceu.
Preciso dessa tarde no meu corpo.
Não, eu não preciso de você.
Só estou aqui porque eu quero.
É, eu te quero.
Prazos de validade sempre me desafiaram.
Gosto de ir em frente e ver até onde vai o limite do aproveitável...
Meus pensamentos retornaram a janela do meu apartamento.
Agora, o preto da noite vai vencendo o laranja e o azul do crepúsculo.
Sinto meu futuro me cobrando explicações.
Onde eu estive, ou o que eu estive fazendo.
"Já é noite, hora de voltar pra casa".
Não, não quero parar de escrever minha subjetividade,
tou ficando boa nisso...
Tem funcionado assim, como uma catarse.
As palavras simplesmente vêm e vou psicografando minha essência não barrada.
O meu passado é apenas um porto seguro quando o presente ou o futuro me assusta.
É só um chão que eu posso pisar pra ter certeza que eu tenho certeza de alguma coisa.
Só isso é o meu passado.
Meu futuro, esse é feito de sonhos.
O que eu temo de verdade, é o silêncio do meu presente.
É como o mar que me encontra na areia junto ao crepúsculo e me diz tudo sem me dizer nada.
Na verdade, eu estou bêbada...
Bêbada dessa maresia, desse sentimento de amor e paz numa cabana de palha, estou bêbada desse sol se pondo e deste fim de tarde que me cala.
Eu não quero que nada estrague essa completude que eu sinto agora.
Eu quero que todo mundo sinta o que eu estou sentindo.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Is This It?

Gosto do inacessível,
indecifrável.
Gosto de não gostar,
Versos perdidos.
Quem sou eu afinal?
Sou ninguém,
deitado nessa espera.
Números e cálculos por fazer,
matemática precisa.
Preciso de mais razão na minha vida.
Minha soma nunca dá exata.
Procuro no espaço, recorro ao infinito,
o porque de tudo isso.
Não me encaixo,
não sou previsivel,
Apenas a máscara que eu apresento é comum.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Apático

Rio de Janeiro, em janeiro, uma casa vazia e sete cigarros queimados. Ansiedade versus apatia, óculos manchados, não levanto da poltrona, não irei limpá-los. É meio dia, permaneço de pijama, o mesmo da noite que encarei sozinha. Continuo acordada, não lembro a última vez que dormi. Estou assim, inerte, sonâmbula, fumante... No peito uma aceleração sem explicação, estou sufocando de agonia, um carnaval acontece dentro de mim. Por fora, pura inércia, não há mais o que fazer. Não vou pentear os cabelos, nem curtir o verão da cidade maravilhosa. Não vou tirar este pijama, nem parar de fumar. Eu tenho direito de escolher como quero morrer e felizmente a dor me inspira. No entanto, um último recado, daqueles que deixaria na geladeira para quando alguém me encontrasse afogada em um copo de whisky. Um simples bilhete, com os seguintes dizeres: Eu me importo com você.

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O meu maior dom,
foi o meu maior algoz.
Passei da dose e do limite,
do que pertencia somente a mim.
Deixei sequelas e feri pessoas.
Eu só fui sincera.
Minhas próprias palavras,
me machucaram no fim.