sábado, 23 de outubro de 2010

"Eu quero é mais brincar, melhor é ser criança"

Hoje, a criança que mora em mim resolveu se rebelar. Chega de adultecer! A criança que mora em mim, apareceu quando eu me olhei no espelho. Ela olhou pra mim e eu poderia escutar a gargalhada dos seus olhos. Gargalhada gostosa, daquelas típicas de cócegas. O seu olhar despertou em mim todos os sentimentos possíveis, cai no chão, perdi a compostura e não me reprimi por isso. Ela continuava me olhando ternamente, sorria e me oferecia sua mão macia, pequena e limpa. Brincamos de roda, corremos e nos escondemos uma da outra, gargalhamos muito e por fim, acabamos deitadas no chão, suadas, ofegantes e leves de tanto brincar. Não lembrava do quanto era bom quando ela me visitava, afinal há muito tempo isso não acontecia. Ela era capaz de enxergar o céu nas rachaduras das paredes, fazia das latas de margarina navios e via castelos em caixas de sapatos. Ela criava, ria, brincava. Não estava muito preocupada com a maldade do mundo, nem com a instabilidade econômica, não tinha a menor idéia do que eram as drogas, a violência e as guerras. Ela não estava no passado, muito menos no futuro. Ela vivia o aqui e agora, agora e aqui.

Hoje ela veio me visitar, hoje ela veio cantar e ri pra mim com seus dentes de leite. Ela me entregou uma rosa branca e pediu que eu lembrasse dela toda vez que a olhasse, eu lembro, eu lembrei. Não quero voltar a ser ela, mas quero e preciso que ela esteja sempre comigo. Brincando, relaxando, acreditando com toda alegria, roubando de mim a expressão ranzinza, o mal-humor, oferecendo-me amor incondicional, sem interesses ou contratos, apenas amor. Hoje, eu quero ficar com ela, deitada no chão, rindo e fazendo caretas, hoje eu quero imaginar como seria morar na lua, hoje eu não quero pensar no futuro, hoje eu quero cantar Xuxa, Sandy Júnior e músicas de ninar.

Hoje eu tenho oito anos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Passando para o passado.

Eu demorei para aceitar que minha intuição, mais uma vez, estava certa. Tenho me despedido de você em cada dia, em cada beijo e em cada momento que sinto que o que era doce tem virado amargo. Tenho me despedido de você, cada vez que escolho silenciar a falar. Tou me despedindo, tou recuando e tou sofrendo com isso. Sinto-me triste, mas não quero ir de contra ao que parece o caminho natural da nossa história. Estamos sucumbindo diante aos meus olhos vermelhos, que tentam desmascarar a falsidade do meu sorriso quando diz que está tudo bem. Não, não está tudo bem. Eu não queria sentir o que eu tou sentindo agora. Eu queria me sentir como antes, leve, sua, bem e só. Sinto falta de você quando estamos juntos. Eu juro que não queria isso, mas não consigo evitar, não consigo não me sentir mais distante, mais atriz, menos eu. Não consigo não sentir que eu estou indo embora. E sei que isso vai passar, o que também me aflige, afinal, vai passar. A gente vai passar, nosso sentimento vai passar e a dor que tanto me machuca agora, também vai passar, e você vai ser mais uma página amarelada e virada, que nesse momento eu só queria que fosse a página atual.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Eu e ele

Segurou minha mão quando eu acordei, suplicou que eu não fosse trabalhar aquela manhã. Pediu que eu ficasse com ele só um dia, só um dia. Que provasse o meu amor.
Como era capaz de me pedir provas de amor se tudo que eu fazia era por ele? Se por ele eu vivia e morria? Ele sabia como me desarmar, era só diminuir os olhos, falar baixinho e se encaixar no meu peito. Pediu que eu não fosse, não queria ficar sozinho, queria o meu colo. Olhei aqueles olhos carentes, iguais aos meus, aqueles traços que vieram de mim e vi quão ausente eu era. Justificava dizendo que era por ele, mas ele era o menos beneficiado. Foi então que resolvi atender o seu pedido, desmarquei as consultas e fiquei. Ora no sofá vendo desenho, ora na minha cama conversando sobre astronautas e estrelas cadentes, ora lendo ou preparando sua comida favorita. Até ele adormecer sobre mim. Um filhote saciado de amor materno. Era eu e ele de novo completos.
Eu senti paz aquela manhã, a felicidade que eu senti vendo aquele ser tão pequeno respirar sobre mim me deixou renovada. Eu podia ser o que for, médica, mulher, mas naquele momento, eu era mãe.
Apenas mãe e amava aquela criatura com não amava mais nada no mundo.

Saudade

Hoje me peguei sentindo saudades, nada que me deixasse triste, não, muito pelo contrário, foram alguns minutos que me fizeram viajar longe, pra perto de você. Lembrei de pequenas coisas, aquelas pequenas coisas, tão nossas, que ficaram na minha rotina depois que nosso amor, não quero dizer que acabou, adormeceu. Coisas simples, como o jeito com o qual você segurava a xícara de café quente, ou seu jeito desajeitado de cozinhar, batendo panelas, derrubando tudo. As inúmeras vezes em que você me pediu opinião sobre o que vestir e como você ficava lindo quando usava aquela pólo azul, azul como seus olhos, que pareciam mar de maré baixa, sereno, tranqüilo. Será que tem outro alguém hoje te ajudando a se vestir? Será que tem outro alguém hoje cuidando de você? Saudade com gosto de domingo de tarde, com cheiro de tempo chuvoso, apenas saudade. Seu número que eu sabia de cor, já não está mais nas últimas chamadas. Até as coisas, antes impregnadas com o seu perfume, parecem ter perdido o cheiro, que se espalhou com o vento, enfraquecendo e indo embora com o tempo. Eu não mudei, continuo deixando cabelo na escova, pasta de dente sem tampa e bebendo café com cinco colheres de açúcar. O engraçado é que quando faço essas coisas, que tanto te irritavam, ainda me sinto repreendida, como se fosse receber uma bronca ou algo assim. Depois dou risada sozinha, afinal, agora eu estou sozinha, sem ninguém pra brigar comigo pelo açúcar, nem pelos outros maus hábitos. Sabe, eu até conheci um cara nesse meio tempo, mas ele era perfeito demais pra dar certo comigo, ele era bom em tudo o tempo inteiro, e nossa isso era uma chatice! Não conseguia imaginá-lo fazendo campeonato de cuspe comigo, como você, nem disputando pra ver quem falava mais palavrão. Tenho quase certeza que ele nunca encheria a cara comigo nem me ensinaria a jogar futebol. A diferença é que todo mundo apoiava esse meu novo caso, acho que querem me casar logo, você sabe como meus pais são e ele um rapaz inteligente, de família, bonito, agradável conseguiu conquistá-los, coisa que você não conseguiu em quatro anos. Enfim, não deu certo, sou intempestiva, impulsiva e inconstante demais, você sabe, e romance morno me nauseia tanto que estraguei tudo. Mas, nada disso importa agora, não nesse texto, a verdade é que eu só senti saudades. Uma saudável saudade pra me lembrar que já fui uma das mulheres mais felizes do mundo e que ainda sou por ter vivido e por poder continuar vivendo aquilo nem que seja numa lembrança vaga de um domingo chuvoso.

domingo, 3 de outubro de 2010

Amor, democrático Amor...

Uma pequena homenagem a meu amigo calouro fã, que fez comigo esse pequeno e fofo texto numa brincadeira emiessiênica.
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Pareciam perfeitos um pro outro, enfim, mas ela era Serra e ele era PT. E esse foi o começo do fim. O grande dia havia chegado e no momento da apuração dos votos, à medida que os valores apontavam para uma vitória, que não era mais de partido, e sim dele, o amor deles dois ia se perdendo, a cada ponto computado, a cada segundo pra o decreto, para o fim da eleição.

Ele, por alguns segundos em que o coração falou mais forte, pensou em rever sua posição tão radical. Afinal de contas, eleições são a cada 4 anos, mas um amor como aquele, raramente, uma vez na vida... Ela, ao contrário, não pensava, afinal , era ela que estava perdendo as eleições e não ele. Tudo bem, as eleições eram de 4 em 4 anos, mas não conseguiria suportar 4 anos dormindo com o PT, isso feria todos os seus princípios, ainda mais um PT vitorioso, isso não, isso não!

Insistentemente, ele tentou convencê-la de que qualquer disputa, a não ser para estarem juntos, era pequena diante daquele sentimento tão grande e belo. Também argumentou que aquele orgulho tolo limitava demais, a causava problemas por impedí-la de viver intensamente novos momentos, com novos e mais felizes modos de pensar. E ainda deu-lhe flores.

Ouvindo aqueles apelos, ela foi deixando o sentimento invadir aos poucos e quebrar seu radicalismo. É! Até que privatizar empresas estatais não era tão legal assim, e também, o bolsa familia já ajudou muita gente, não podia negar. E assim, disfarçando que estava amolecendo, resolveu ficar do lado do petista mais maravilhoso que conhecia, porque o amor, ah o amor! Esse sim tem o direito de ser apolítico.
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Camilla Veras e Lucas Gondim